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Toronto entre as metrópoles mais seguras do mundo

Ao contrário do que pensam muitos canadenses, que rotulam Toronto de “perigosa” e “violenta”, a proporção de homicídios da maior cidade do Canadá varia entre 2 e 3 para cada 100 mil habitantes. Já a taxa de crimes em geral caiu cerca de 30% nos últimos 10 anos e é uma das mais baixas se comparada a outras metrópoles norte americanas. “Nunca estivemos tão seguros”, afirma especialista em criminalidade.

A criminalidade está presente em todos os países do mundo, independentemente da qualidade de vida que eles proporcionam aos seus habitantes. O que muda de país para país, de comunidade para comunidade, é a taxa de incidência, as causas e os efeitos da criminalidade, assim como o método de prevenção e repressão para combatê-la.

Com este artigo procuro esclarecer um pouco sobre a natureza da criminalidade em Toronto, uma das metrópoles mais seguras da América do Norte e referência mundial em segurança pública, mas que ao mesmo tempo é frequentemente taxada por canadenses como a mais perigosa metrópole do Canadá.

Pergunte a qualquer brasileiro morando em Toronto qual a maior vantagem de se morar por aqui, e ele provavelmente responderá “a sensação de segurança” que se tem no dia a dia: na madrugada, de manhã, à tarde, à noite; nas ruas, em eventos públicos, no trânsito, em casa. Segurança é um dos principais fatores que levam o brasileiro a imigrar para o Canadá.

Portanto, o fato de que grande parte dos brasileiros que vive no exterior nasceu em algumas das cidades mais violentas do Brasil não é mera coincidência. Apesar de ter residido no exterior em minha infância e adolescência, apenas recentemente passei a valorizar a sensação de segurança que Toronto oferece. Ter de estar alerta enquanto andando pelas ruas, dirigindo, entrando em casa, ou até mesmo em um “luau” na praia – minha única experiência de assalto no Brasil – realmente deteriora sua qualidade de vida.

Essa sensação de segurança não é apenas sensação. Toronto é de fato uma das metrópoles mais seguras da América do Norte e do mundo. A taxa de homicídio aqui tende a variar entre 2 e 3 homicídios para cada 100 mil habitantes.

Para se ter uma ideia, Natal (RN), considerada uma das capitais mais seguras do Brasil, tem uma taxa de homicídio de aproximadamente 21 para cada 100 mil habitantes. A taxa nacional brasileira subiu cerca de 30% nos últimos 10 anos e é de 25 para cada 100 mil habitantes. Já a taxa de crimes em geral em Toronto caiu cerca de 30% neste mesmo período, e se destaca mesmo comparada a outras metrópoles norte americanas.

A taxa de homicídio em Detroit (MI), Chicago (IL) e Nova Iorque (NY) são aproximadamente de 30, 15, e 6 para cada 100 mil habitantes, respectivamente. O mesmo padrão se observa em taxas de outros tipos de crime, como assalto. Mas quais são os motivos que contribuem para essa segurança?

Teorias de criminologia reconhecem que diferentes fatores contribuem para a criminalidade de uma comunidade. O baixo índice de crimes em Toronto é, portanto, resultado de vários fatores sociais que juntos contribuem para uma comunidade mais segura. A cultura, a qualidade da educação e a baixa taxa de desemprego são exemplos.

Governo tolerante

A atual posição postura política sobre o uso de drogas também contribui para a sensação de segurança. Apesar de ilegal, há tolerância para com o uso de drogas derivadas da cannabis sativa – como haxixe e maconha – entre outras. Isso impede que o uso moderado de drogas, e consequentemente o tráfico, gere criminalidade como ocorre nos EUA e América Latina. Pequenos delitos cometidos por jovens, frequentemente membros de gangs, e violência entre eles são os tipos de crimes mais comuns em Toronto, mas que, no geral, não interferem na sensação da segurança pública da população.

Entenda como funciona a polícia

A polícia também faz parte dessa equação. As forças policiais no Canadá são dividas por distritos, sendo a Toronto Police Service responsável pelo policiamento em Toronto e a Peel Regional Police pelo policiamento na Greater Toronto Area.

The Royal Canadian Mounted Police é a polícia federal canadense e há também forças policiais provinciais, como a Ontario Provincial Police, que além de estradas e parques estaduais policiam também algumas pequenas municipalidades.

O tratamento faz a diferença

Conheço policiais e oficiais de polícia aqui em Toronto e já fui “vítima” de “batidas” policiais. Digo “vítima” e “batida” entre aspas pois, para um brasileiro, as batidas policiais – e me refiro às de rotina – que se “sofre” no Canadá – mais uma vez, as aspas – são, em sua maioria, calmas e respeitosas. Para tudo o policial diz please, sorry e thank you. Minha intenção não é generalizar, pois assim como nem todo policial no Brasil é corrupto – e não estou dizendo que são em sua maioria – nem todo policial no Canadá demonstra tamanha educação, como este que foi flagrado no G20. Mas, no geral, policiais por aqui tentam ser pacientes, indispensável para lidar com tamanha população de imigrantes. Eles tomam cuidado também para agir dentro dos limites da lei, já que qualquer desrespeito ao cidadão que esteja de fato cometendo um crime, por exemplo, pode tornar o ato impunível. Veja o polêmico caso de R. V. Harrison, 2009 SCC 34.

Policiais nas escolas

As ações da polícia no Canadá vão além do policiamento ostensivo, a preservação da ordem pública e a investigação criminal. No ano passado, em uma conversa com o chefe da polícia de Toronto, William Blair, ele me descreveu um programa que coloca policiais em elementary schools e high schools para que possam estabelecer bons relacionamentos com os estudantes, para que formem uma visão positiva da polícia. Já que policiais tendem a aparecer na mídia apenas quando cometem delitos, disse William, esse programa permite que as crianças vejam policiais como amigos e não só como autoridades, ou pior, inimigos. Apesar de eu ser contra a filosofia na qual se baseiam forças policiais, no Canadá é indiscutível o fato de que elas contribuem para o baixo índice de criminalidade.

Pontos fracos

Na minha opinião, por causa da rotina tranquila do policial canadense  – grande parte dos policiais, por exemplo, se aposenta sem nunca sequer sacar a arma, já que só se saca a arma para atirar e só se atira para salvar vidas – ações policiais como as do G20 em Toronto em junho do ano passado mostram o despreparo da polícia para lidar com situações extremas. Também há grande polêmica em relação ao uso de tasers, que na minha opinião, também é fruto do despreparo policial devido à sua rotina excepcionalmente tranquila. Veja o caso de Robert Dziekański.

Rótulo mal empregado

Se Toronto é de fato uma metrópole segura, por que então canadenses insistem em rotulá-la de perigosa e violenta? A resposta é simples. O recorde de homicídios num só ano em Toronto foi de 89 no início da década de 90. Toronto registra a cada ano o maior número de homicídios do país, variando de 60 a 80. Já Edmonton, por exemplo, que em meados da década passada se tornou a mais violenta entre as principais cidades do Canadá, registrou cerca de 40 homicídios. É fácil, então, chegar à conclusão que Toronto é a mais perigosa, afinal, registrou o maior número de assassinatos.

Nunavut e Northwest: as mais violentas

Mas o fato é que se deve levar em consideração a taxa de homicídio, geralmente medida a cada 100 mil habitantes, e não o número total de homicídios. É a proporção das ocorrências nas diferentes cidades, e não o número de ocorrências, que melhor reflete o nível de segurança da comunidade. As províncias mais perigosas e violentas do Canadá são de fato Nunavut e Northwest Territorries, onde a taxa de homicídio ultrapassa os 6 para cada 100 mil habitantes. Isso é resultado principalmente do altíssimo consumo de bebida alcoólica na região e do isolamento de muitas comunidades. Há também uma correlação com o nível de escolaridade que é o mais baixo do Canadá.

“Nunca estivemos tão seguros”

A mídia local e nacional também é responsável pela má interpretação dos fatos. Cada vez mais temos a sensação de que vivemos em tempos mais violentos, mas a verdade é justamente o contrário: nunca estivemos tão seguros quanto nos dias de hoje. E isso vale não só para Toronto e as cidades canadenses, mas também para cidades no mundo inteiro, inclusive as brasileiras. E por que, então, nunca ouvimos falar sobre isso da mídia?

Como muitos, creio que o governo vê o medo como parte fundamental de uma sociedade bem estruturada. Falar para as pessoas temerem estranhos, tomarem cuidado ao sair de noite e protegerem a si e a seus pertences a todo custo, isso faz com que elas se tornem mais cautelosas. E quanto mais cautelosa for a comunidade, mais submissa ela é e menos trabalho dá.

É difícil encontrar uma casa na Greater Toronto Area que não tenha alarmes de segurança de última geração em todas as portas e janelas. O fato de a GTA ser uma das regiões mais seguras do mundo, onde um homicídio é capaz de chocar comunidades inteiras, para a mídia é um mero detalhe. O que importa é que de uma forma ou de outra, temos de nos proteger. Só não perguntem a eles de quem ou por quê.

Vale dizer que as informações fornecidas neste artigo, como as taxas de homicídio, índices de criminalidade etc, não vieram de fontes atualizadas e oficialmente reconhecidas, mas sim do meu estudo sobre criminologia em Toronto nos últimos anos.

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Bruno é natural de Santo André (SP) e mora no Canadá desde 2007, onde estudou Filosofia e Criminologia na Universidade de Toronto até 2014. Mantém os blogs Enganos Mundanos e Conditioned Things.

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