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Como escolher um “day care” em Toronto

Quem tem filhos pequenos sabe a preocupação que é deixá-los nas mãos de outra pessoa. Se você está nessa situação, saiba como funcionam os programas de day care e conheça as dicas sobre como procurar um lugar legal para seu pimpolho!

Os pais sempre querem o melhor para seus filhos e isso vale também para a escolha da escolinha. Por isso, é importante pesquisar bastante antes de se decidir e começar a procurar cedo, mas cedo mesmo!

Problemas do sistema

De acordo com uma pesquisa do grupo Mothers for Child Care, feita com quase 800 mães em Toronto, as maiores preocupações na hora de escolher um day care são: qualidade, localização e preço, como é mencionado em reportagem do Metro News.

A pesquisa também aponta a dificuldade de se conseguir vagas em locais licenciados. Vale lembrar que locais não-licenciados não são ilegais nem proibidos, porém não são supervisionados pela prefeitura, então não são obrigados a seguir padrões e normas para funcionar. Assim, a falta de locais licenciados obriga os pais a entrarem em diversas listas de espera e terem que pagar para entrar em cada lista. Isso porque, segundo dados do departamento Children’s Service, os programas de day care que existem em Toronto atendem a apenas 21% das crianças de 0 a 9 anos que vivem aqui.

Finuzza Mongiovi Baracuhy, que veio de João Pessoa há quase cinco anos e mora em Brampton, teve sorte com o day care de seu filho Luigi, hoje com seis anos: “Eu consegui vaga logo. Olhei em julho e ele entrou em setembro. Mas acho que eu consegui porque era full time, se fosse part time ia ser mais difícil”.

Outro problema é que o valor de um day care licenciado pode ser tão alto (de $800 a $1,900 mensais) que algumas famílias precisam recorrer a locais não-licenciados, contratar babás ou pedir ajuda de parentes.

Maria Eugênia Jardim, carioca que trabalha na UofT há sete anos e dá palestras sobre childcare, comenta: “Famílias mais jovens, que não ganham tanto e não conseguem se qualificar para receber subsídios, muitas vezes têm que recorrer a opções de cuidado de suas crianças que estão longes do ideal! Por aí a gente já percebe que a tarefa de conseguir vaga em um day care pode não ser tão fácil!

Níveis

O sistema de educação infantil em Toronto tem níveis de acordo com a idade da criança:

  • infant, que vai de 0 a 18 meses;
  • toddler, que vai de 18 meses a 2,5 anos;
  • preschool, que vai de 2,5 anos a 5 anos;
  • e school age, que vai dos 6 aos 12 anos.

O preschool se divide ainda em junior kindergarten, para crianças com 4 anos, e senior kindergarten, para crianças com 5 anos. Já o programa school age normalmente é oferecido antes e depois do horário escolar regular, pois é para crianças que já frequentam a elementary school.

Mas Maria Eugênia Jardim nos lembra que nem todos os locais oferecem todos os níveis: “Alguns day care oferecem classes para todas as idades, outros só para crianças em idade escolar, outros até 5 anos”. Por isso, é importante pesquisar primeiro os locais que oferecem o nível que você quer.

Locais

O day care pode ser oferecido tanto em child care centres, que são as creches, como também em home child care, que são casas de pessoas licenciadas para cuidar de várias crianças e estão ligadas a uma agência. A província de Ontário estabelece padrões de segurança, nutrição, atividades e funcionários, entre outras coisas, que devem ser seguidos para que uma creche ou uma casa funcione como day care.

Esses padrões são estabelecidos pela lei DNA (Day Nurseries Act). Quando for procurar um desses locais, peça para ver a licença do governo, e se ela for de cor amarela quer dizer que a licença é provisória e que o day care tem um tempo determinado para regularizar algum item que está fora do padrão. Fique de olho no que está sendo feito para a correção do problema!

Para procurar locais licenciados, você pode usar o Child Care Locator, de Toronto, ou o Licensed Child Care, de Ontário. Maria Eugênia Jardim ainda aconselha: “Depois que você tiver a lista das creches, ponha seu nome ou o nome da sua criança em todas – quanto mais, mais chances de uma vaga aparecer. E isso já quando souber que está grávida! Também pergunte sempre o que tem que fazer para manter o seu nome na lista”.

Co-op Schools

As co-op schools, também chamadas de Co-operative ou Community Nursery Schools, são organizações sem fins lucrativos mantidas e organizadas pelos pais, que exercem funções administrativas dentro da escola e contratam professores para as funções educativas. A brasileira Luciana Castello Branco, cujo filho Philip, de três anos, estuda em uma co-op school, explica que a escola conta com a ajuda dos pais em áreas como marketing, limpeza e assistência à professora na sala de aula, caso haja muitos alunos.

Há uma diretoria que também é formada por pais e todos se organizam para realizar eventos como fundraising, garage sale e outras formas de arrecadar dinheiro para a escola. Luciana nos conta: “Minha função era de enviar e-mails para as mães da turma do Philip passando os comunicados da professora”. Ela ainda acrescenta que, quando os pais ajudam de alguma forma, a escola fica mais barata, mas caso os pais não se interessem em ajudar, então pagam mais caro.

Para Luciana, além do preço, o grande benefício da co-op school é que os pais podem acompanhar de perto as atividades na escolinha do filho. Maria Eugênia Jardim também lembra que outra vantagem de locais sem fins lucrativos é saber que “o dinheiro que sobra vai para o aprimoramento do profissional, para repor equipamentos danificados, para reformas do prédio, móveis apropriados para crianças, etc”.

Vale lembrar que, por razões de segurança, todos os pais e mães que têm alguma função nesse tipo de escola precisam apresentar a certidão negativa de antecedentes criminais da polícia e as mães têm que ser vacinadas.

Você pode verificar a localização das co-op schools disponíveis em Ontário no site PCPC (Parent Co-operative Preschool Corporation).

Profissionais

Todo child care centre tem pelo menos três tipos de profissionais: um supervisor, um professor por nível com título ECE (Early Childhood Educator) obtido em um college ou universidade, e assistentes. Já as agências que coordenam o trabalho do home day care devem ter um supervisor, um visitante a cada três meses para verificar se os padrões estão sendo seguidos e a pessoa que cuida das crianças (home child care provider). Essa pessoa, que não precisa ter formação profissional, pode cuidar de, no máximo, cinco crianças, incluindo seus próprios filhos. Já nas co-op schools, além dos professores, os pais também participam das atividades da escola.

Preços

Existem alguns tipos de day care: particular, municipal, misto (que tem contrato com o governo para receber auxílio financeiro, o fee subsidy) e cooperative ou co-op school (que é mantido pelos pais). Mesmo o day care municipal é pago e não é barato! Você pode verificar os preços deles no site do MCCS (Municipal Child Care Services).

Maria Eugênia Jardim explica que “as creches são administradas separada e diferentemente, e cada uma define quanto vai cobrar. O preço não depende do bairro e sim da administração, e o mantenedor (operador) do day care pode ser uma companhia que visa lucro, uma entidade sem fins lucrativos ou uma pessoa”. Quanto ao day care misto, ela continua: “Para que um day care tenha vagas subsidiadas, ele tem que assinar um acordo com o governo, e então o pagamento vai direto do governo municipal para o day care”.

Segundo Valquíria Cuizzi, brasileira que trabalha em um day care em Mississauga, “para trabalhar em um home day care a pessoa responsável pelas crianças não precisa ter formação profissional, então normalmente custa um pouquinho mais barato que um day care centre.” Além disso, Daniela Castro, paulistana formada em ECE (Early Childhood Education) no Canadá e que trabalha há quase um ano em day care, explica que “o preço varia também com a idade ou nível em que a criança está, sendo que infants são mais caros e preschoolers mais baratos (ou menos caros!)”.

Fee Subsidy

Para se candidatar a uma vaga subsidiada em day care, os pais devem fazer um cadastro e comprovar, com a declaração de imposto de renda, que a família tem baixa renda. De acordo com isso e com o número de pessoas na família, o subsídio pode ser parcial ou total. Além disso, os dois pais têm que estar trabalhando ou estudando, ou seja, é absolutamente necessário para aquela família que a criança fique na creche. Valquíria Cuizzi comenta que para receber o auxílio “há uma grande fila de espera e pode levar anos até conseguir uma vaga. Se tiver sorte, pode conseguir rapidamente”. Isso é explicado pelos dados do Toronto Children’s Services, segundo o qual havia mais de 17 mil crianças na lista de espera para o fee subsidy em janeiro desse ano, já que os recursos disponíveis atendem a apenas 28% das crianças em famílias de baixa renda.

Por isso, Maria Eugênia Jardim conta que, em suas palestras sobre childcare na UofT, “aconselhamos a adicionar o nome na lista assim que a pessoa souber que está grávida! Você pode colocar uma data a partir da qual vai precisar do subsídio, como por exemplo quando voltar da licença maternidade. Quando o seu nome estiver no topo da lista, eles telefonam e chamam para uma entrevista, e então vão checar a sua situação e definir se naquele momento você se qualifica para o subsídio. Se estiver tudo certo, eles te dão 30 dias para achar uma vaga subsidiada”.

É importante saber que depois que se consegue o subsídio, a criança pode mudar de day care se o outro lugar também tiver vagas subsidiadas. Para quem quiser se cadastrar e entrar na fila para receber o fee subsidy, entre no site do Toronto Children’s Services ou ligue no 311.

Independentemente do fee subsidy, há também o Universal Child Care Benefit, que concede às famílias com crianças até 6 anos C$100 por mês por criança do governo canadense para auxiliar nos gastos com day care.

Diferencial

Alguns locais oferecem atividades ou equipamentos extras que podem ser um atrativo para os pais. O filho de Luciana Castello Branco, frequentou um day care centre que a deixou satisfeita por ter um grande diferencial: “Tinha câmera, então meus pais do Brasil podiam ver o neto pela internet a qualquer hora. Meu pai até viu o Philip dar os primeiros passinhos online”. Já Daniela Castro conta que “muitos centros introduzem a liguagem de surdo-mudo, principalmente com os menores, para facilitar a comunicação. Nos níveis iniciais, é muito mais fácil a criança se expressar através de gestos, já que ainda não tem vocabulário”. A brasiliense Ana Paula Gueiros, que mora em Toronto há quase dois anos, também está satisfeita com o day care de seu filho Davi, de 4 anos: “A cada semana um tema é trabalhado. Por exemplo, teve uma semana que o tema era segurança e um policial da região foi à escola para falar com as crianças. Depois eles fizeram um passeio no carro de polícia com as crianças e elas ficaram super felizes”!

Qualidade

Essa talvez seja a parte mais difícil da escolha de um day care porque, de acordo com Maria Eugênia Jardim, “especialmente na primeira vez os pais não sabem muito bem em que prestar atenção e o que exigir”.

Por isso, é importante saber que a avaliação de cada day care licenciado é feita pela equipe do programa municipal ELC (Early Learning and Care), que utiliza um documento com critérios bem específicos para verificar se o local está seguindo os padrões exigidos pela província. Esse documento, o Toronto Operating Criteria, fica disponível a todos, inclusive aos pais, e serve para orientar como deve ser um programa de qualidade. Para saber o ranking de avaliação de um day care, procure o nome do local no Child Care Finder e selecione a opção Ratings.

Além disso, você pode contar também com as dicas de quem conhece o assunto. Daniela Castro dá um conselho importante: “Os pais devem fazer visitas aos locais para ver se o day care oferece aquilo que eles esperam, e também conversar com outros pais. Na minha opinião a ‘propaganda boca-a-boca’ funciona melhor do que qualquer pesquisa”.

Ana Paula Gueiros também acrescenta: “Depois que seu filho passar a frequentar o day care, você deve observar o comportamento dele, se ele está gostando de ir, fazer perguntas sobre os professores e amiguinhos. Se tudo estiver certo, você saberá que fez a escolha certa”. E Maria Eugênia Jardim concorda: “É importante pensar que o trabalho dos pais de ficar de olho em tudo não acaba no dia em que conseguem uma vaga no day care, mas é trabalho sem fim, vão ter que estar sempre observando a própria criança, o lugar, e dessa maneira contribuir para aquele espaço ser o melhor possível”. Ela finaliza: “O mais importante de avaliar é a pessoa que vai cuidar diretamente do seu filho, seja a professora da creche, a cuidadora da creche caseira, ou a babysitter que você vai contratar. Ela é quem vai ser a sua parceira na educação do seu filho”.

Por fim, há ainda o guia do Toronto Children’s Services, o site da província de Ontário, e o guia da Canadian Child Care Federation, que dão orientações importantes aos pais e fornecem checklists do que observar e o que perguntar em uma visita, como preparar seu filho para o início em um novo local e quais são as responsabilidades dos pais para garantir à criança a melhor experiência possível no day care. Afinal de contas, é isso que você quer para o seu filhote, não é?

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