Siga-nos

OiCanadá

Experiência

Imigrante não é turista e turista não é imigrante, em Toronto e no mundo

A imaginação humana surpreende: sabe aquele seu amigo que mora fora? Aquele que mora em Toronto. Sim, o que manda foto dele na neve. Outro dia vi uma foto dele na CN Tower. Vidão. Tava de iPhone 7. Não sei o que ele faz, mas está bem pra caramba. Será? Fato: imigrante não é turista e turista não é imigrante. Quer saber por quê?

Turista se hospeda, imigrante mora

Turista passa, o imigrante fica. Turista não precisa de fiador pra hotel. Nem paga seis meses adiantados pra ficar lá dentro. Hotel, não gostou: check out. O imigrante precisa estender sua tenda, é sua vida naquele seu bairro. É seu lar. Tem até vizinho, goste ou não. É ser ali. O turista, é estar ali. Todo imigrante vê na sua primeira casa a sua história fincada naquele país, uma bandeira; para o turista é check in e check out.

Turista busca atrações turísticas, imigrante busca construir histórias

O turista junta folders, mapas, bandeirinhas, bottons, bonés, camisetas, folhas de árvores, pedrinhas e sacolas e sacolas e sacolas. Junta memórias. Imigrantes juntam cicatrizes, lágrimas, desesperos, incertezas, dúvidas, determinações, ousadia, uma dose de satisfação e alegria e caixas e caixas e caixas. Junta histórias, e um colchão de ar para os amigos turistas.

Turista curte as férias, imigrante (pasme) trabalha, e muito

Imigrante, por mais incrível que possa parecer, trabalha. Trabalha muito. Trabalhos variados, constantes, diferentes. As funções tem até nomes chiques em inglês, mas o que fazem, nem queira traduzir. Lembra quando você começou a trabalhar, então. Turista leva souvenirs para os amigos do trabalho. É férias. Celular, só pra tirar foto. Sem pressa, sem stress, sem metas – só uns três pontos turísticos por dia, tá bom. Turista até cansa, imigrante até descansa.

Turista é bye bye, imigrante é thank you

Todo turista que se preza tem aquele guia com as 20 palavras mais usadas em inglês no mundo todo. Às vezes, nem usa isso tudo: basta alguns sorrisos e gestos engraçados. Se é turista, “don’t worry”. Imigrante, saiba, não é professor de inglês. Imigrante também sorri e faz gestos engraçados, “but”. Já diziam os linguistas de plantão: língua é identidade. Para o imigrante cada dia é uma nova aula sobre sua nova identidade.

Turista é cartão de crédito, imigrante é holerite

Para o turista, via de regra, o dinheiro vai (do bolso). Para o imigrante, por sobrevivência, tem que vir (pro bolso). São faturas de cartão de crédito bem diferentes. Um contas de água, luz, aluguel, mercado. Outro ingressos, manuais dos eletrônicos, notas dos restaurantes. Salários, mas diferentes fins. Um é passaporte, o outro é visto.

Turista é desejo, imigrante é necessidade

Imigrante tem necessidades, o turista desejos. CN Tower para o turista é objeto de desejo, para o imigrante pode ser local de trabalho. É o dia a dia versus o efêmero. Metrô por diversão e metrô como locomoção. A neve para brincar e a neve para tirar do caminho. É a primeira vez em Niágara versus a 78º ida até lá. Mas, as árvores no outono são lindas para ambos.

Turista fotografa, imigrante inala

O olhar é diferente, bem diferente. Para o turista são pontos de vista, para o imigrante são caminhos. E todos os caminhos levam a Downtown, o imigrante conhece cada um deles. O turista olha o mapa, o imigrante faz o mapa. Turista é Instagram, imigrante é Skype. E ninguém melhor para tirar aquela foto do turista na beira do lago Ontário do que um imigrante.

Turista é fast food, imigrante é mercado

Amigo turista é ótimo para trazer aquela comida que só na sua terrinha natal tem. Imigrante é ótimo para mostrar aquela comida do Azerbaijão feita por filipinos com temperos curdos servida em ossos de mooses canadenses. Imigrante, o brasileiro pelo menos, é arroz, feijão, café, picanha, queijo minas, pastel, coxinha. Turista é número 1, combo 2, hot-dog, Tim Hortons, poutine etc.

Turista diz “já volto” pra família, imigrante diz “vem logo” pra família

Para o turista, quando a saudade bate, passa logo. Para o imigrante, saudade é cicatriz. É aquele olhar pela janela lembrando dos amigos, da rua, da família, daquilo que era bom. Saudade para turista é ________ (não sei, não tive). São papos do tipo: [turista falando]: “me pega no aeroporto, e vem logo” versus [imigrante falando]: “te pego no aeroporto, e vem logo”. E ainda tem a saudade daqueles que vem e vão, nossos turistas de casa.

No fim, a verdade é que todo turista queria ser imigrante e todo imigrante queria ser turista. Imigrante também quer seus dias de turista e na cabeça de todo turista também passa aquele pensamento de ser um imigrante no seu próprio país. Um foi feito para o outro. Venham nos visitar. Ser um imigrante por alguns dias.

Avatar photo

Paulistano de berço (São Paulo), Filósofo de formação (Unicamp), Blogueiro dedicado (Blog Numa Fria), Descobridor de Toronto em família (2014).

8 Comentários

8 Comments

    Deixe uma resposta

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    Mais em: Experiência

    Topo