Educação
Educação sexual na escola
Em um país que abriga tantas culturas diferentes, as diferenças culturais acontecem principalmente na educação sexual na escola, que pode ser um tabu pra muita gente.
Era noite dos pais na nova McKinnon Public School, na comunidade de Churchill Meadows, em Mississauga.
Os pais – a maioria deles novos na escola, na comunidade e até mesmo no país – estavam esperando ansiosamente para saber mais sobre o que seus filhos iriam fazer durante o tempo que passaríam diariamente na escola. A noite era mais uma sessão destinada a construir as conexões entre o lar e a escola. A escola queria uma resposta, por parte dos pais e responsáveis, sobre a forma como eles queriam que a escola evoluísse e o que eles esperavam em termos de educação a ser transmitida a seus filhos.
De sugestão de traje a clubes de lição de casa, de roupas de ginástica à razão pela qual um par de sapatos para uso interno era necessário durante o inverno… vários temas foram abordados e discutidos.
No meio de tudo, um senhor Sikh levantou-se respeitosamente e, de uma forma discordante, perguntou aos professores o porquê de ser necessário ensinar educação sexual a seus netos, que cursavam o ensino fundamental (que inclui turmas do jardim de infância à sexta séria), em uma idade tão precoce.
Falar de sexo é tabu
Sua pergunta ressoava por outros conselhos escolares como não apenas feitas pelos recém-chegados a este país, mas também por canadenses de segunda geração que têm preocupações contínuas sobre o que os filhos são ensinados na escola a respeito de sexo. Segundo Homa Farouzan, uma assistente de assentamento das escolas filiadas ao Toronto District School Board (TDSB), “A maioria dos pais vêm de países onde falar de sexo é tabu. Nas escolas onde eu trabalho, existem muitos pais que vêm de famílias muçulmanas tradicionais que querem saber mais sobre este componente da educação de seus filhos e sentem-se desconfortáveis falando sobre isso com eles”.
“Nosso dever como assistentes sociais nas escolas é ajudar os pais a se conectarem com sua escola local e obterem informações corretas. Eu lido com escolas que têm uma grande população muçulmana. Mesmo entre os muçulmanos, existem variações no rigor com que eles seguem a mesma religião”, explica Farouzan. “Por exemplo, pais que vêm da Síria, Líbano e Irã são ligeiramente mais abertos e preferem ter professores iniciando os seus filhos na educação sexual, já que sentem que os professores fazem um trabalho muito melhor do que o que eles fazem em casa”.
Fariba Sahraie, uma mãe solteira que imigrou do Irã para o Canadá, disse: “Minha filha estava na oitava série quando chegamos a Toronto, e estou muito feliz com o que aprendeu na escola sobre educação sexual. Ela está agora no seu último ano do ensino médio em North York e sabe como lidar com estas questões. Então é melhor conhecer os fatos do que permanecer ignorante como se estivéssemos em nosso país de origem. No Irã, nós nunca falamos abertamente sobre sexo. É um país islâmico onde falar abertamente sobre isso é tabu. Então, é melhor que um professor diga a eles do que eu.” No entanto, nem todos tem a mente aberta em relação a isso como a Sahraie. Há alguns pais que vieram do Afeganistão e do Paquistão que são muito rigorosos com seus filhos – ainda mais com suas filhas – e é aí onde a cultura e religião colidem frequentemente.
Sem saída
O conselho escolar é muito firme para transmitir a educação que faz parte do currículo de Ontário. Nenhum pai pode escolher sair disso, pois é uma parte componente do currículo de Saúde e Educação Física, ensinado gradualmente da primeira série até a última. Além disso, o currículo é estabelecido pelo Ministério da Educação de Ontário, e educação sexual é oferecido em cada nível, com temas adicionados e construídos de acordo com o crescimento, idade e série da criança. O mandato do governo é principalmente o de fornecer aos alunos o conhecimento e as habilidades de que eles precisam para desenvolver, manter e desfrutar de estilos de vida saudáveis, bem como para resolver problemas, tomar decisões e definir metas que estão diretamente relacionados com a saúde e bem-estar.
Os quatro componentes da vertente Vida Saudável são:
- Alimentação saudável.
- Crescimento e desenvolvimento.
- Segurança pessoal e prevenção de lesões.
- O uso e abuso de substâncias.
Educação sexual é ensinada dentro da linha de crescimento e desenvolvimento, para todos os alunos de escolas públicas de Ontário, sem exceção.
Enquanto isso, a esteticista e mãe de dois meninos Dhira N. Shah, de Mississauga, está feliz que a escola tenha preenchido os espaços em branco de seu filho na busca do conhecimento. Há quase cinco anos, Shah estava esperando seu segundo filho quando o filho mais velho, Poorav, que estava na segunda série, queria saber como o bebê sairía do seu corpo. “Eu peguei um livro de imagens sobre o corpo humano na biblioteca pública e comecei a explicar a ele como um bebê nasce, mas pulando as páginas relacionadas à relação sexual. Pensei que meu filho era muito jovem para entender. Como hindus, nos sentimos desconfortáveis em falar abertamente sobre sexo. No entanto, ele voltou para casa da escola no dia seguinte com exatamente o mesmo livro me dizendo que seu professor tinha explicado a ele como os bebês nascem e que eu tinha pulado algumas páginas do livro, apontando para aquelas que dizem respeito à relação sexual.” Shah ficou impressionada que ele havia aprendido isso por uma maneira científica e não por seus amigos. Ela sentiu-se claramente aliviada que o professor tenha assumido um assunto sobre o qual ela se sentia desconfortável em falar.
“O que eles fazem nas escolas é muito bom. Nossa fé, como muitas outras, nos ensina a viver uma vida boa, e se as escolas fazem esse trabalho tão maravilhoso de informar as crianças, então não tenho queixas”.
Sentimentos similares são compartilhados por Sue Kim, também funcionária de assentamento em escolas, que ajuda os recém-chegados de países do leste asiático, especialmente famílias coreanas que estão se fixando em Toronto. “Eu não ouvi nada de negativo em relação à educação sexual ensinada nas escolas por parte do grupo de pais com quem eu lido. Então, presumo que eles estejam de acordo com o que é ensinado aos seus filhos no sistema público de escolas de Toronto. Eles não têm elogiado, mas nem têm dito que é contra as suas crenças religiosas.”, disse Kim. Jane Wei, que trabalha com assentamento em dois colégios de Toronto, afirma: “Eu lido com os pais da comunidade chinesa e até agora ninguém se queixou.” “No entanto, este tema é uma espécie de assunto não falado abertamente na cultura chinesa. Então, apesar de pais e filhos me procurarem por diversos problemas, em nenhum momento eles falaram comigo sobre educação sexual. Eu acho que eles sabem que estão em uma nova cultura, de modo que a escola está fazendo algo em benefício a seus filhos, pelo menos esse é o meu entendimento da reação deles.” Assim como Farouzan, que está no Canadá há 22 anos e também é mãe de adolescentes, “Se essas crianças têm de crescer e viver em Ontário, é melhor que estejam bem preparadas para lidar com o que vem pela frente. É uma experiência de vida, e se os pais são tímidos para dar educação sexual a eles, eu prefiro que eles aprendam na escola.”
Para mais informações visite o site do Ministério da Educação. TEENAZ JAVAT