Educação
Amizades com prazo de validade
Estudar em Toronto é uma oportunidade não só de aprimorar o inglês, mas também de fazer novos amigos de várias partes do mundo. Rodrigo Schmiegelow explica o que essas amizades têm de especial e por que elas têm data para acabar.
No domingo passado, minha avó me perguntou como são as amizades aqui, se elas são superficiais. Para mim, elas são muito fortes e tão importantes quanto em qualquer outro lugar, mas normalmente acabam aqui mesmo.
Às vezes, acho que pode ser igual àquele poema: “que seja eterno enquanto dure…” e, acredito, infelizmente, é mais ou menos assim mesmo.
Aqui criamos um elo muito forte com as pessoas, pois normalmente não temos nenhum parente ou amigo próximo, nossas amizades do Brasil se “digitalizam” e passam a ter hora marcada para acontecer. Portanto, os novos amigos passam a ser praticamente nossa família, é com eles que estamos quando precisamos conversar, chorar, rir, sair, aprender, comprar, mudar, comer, entender, praticar, dispersar, etc, e assim surge uma amizade sincera e sem interesses, porque, aparentemente, aqui, somos todos “iguais”.
Digo “igual” porque acho incrível como pessoas de lugares e culturas tão distintas podem parecer tanto umas com as outras, tanto no que se refere ao estilo (explicável por conta das marcas de roupas internacionais) quanto à personalidade. Consigo perceber características de amigos brasileiros em amigos daqui, percebo as mesmas piadas, as mesmas brincadeiras, as mesmas incertezas.
Semana passada encontrei uma amiga brasileira rodeada de amigos brasileiros aqui, e então ela falou: “eles são os melhores”, afirmação da qual discordo completamente. Com certeza tenho mais afinidade inicialmente com brasileiros, mas vejo o mundo de uma forma mais uniformizada, onde não há tanta diferença, para mim não há melhores nem piores, cada um tem suas características, independentemente do país de origem. Claro que algumas pessoas, mais fortes, sobressaem por conta da cultura e das experiências vividas, mas demonstração de afeto e carinho tem se mostrado universal.
É até um pouco estranho ter esse sentimento quando só consigo expressar aproximadamente um terço do que tenho vontade (por causa da limitação do meu inglês), ou quando a explicação de algo sério fica engraçada por falta de vocabulário. Aqui percebo ainda mais que não é preciso muitas palavras para fazer um amigo ou, muitas vezes, não é preciso nenhuma delas para entendê-los.
Mas percebo também que, em pouco tempo, essas amizades esfriam bastante e, diferentemente das que ficaram no Brasil, não dá para saber quando você vai reencontrar os amigos que fez em Toronto, o que torna o relacionamento distante, que se perde com o tempo.
Desde que cheguei a Toronto, há quase quatro meses, já vivi essa experiência com pessoas que voltaram para o seu país e com as quais converso apenas ocasionalmente por facebook ou e-mail. Aquele laço forte simplesmente desata e ficam as boas lembranças e a experiência de ter compartilhado alguns meses de sua vida com alguém com uma cultura bem diferente da sua. Experiência essa sem preço e que nos faz pensar um pouco mais em quem somos e como podemos ser pessoas melhores, e ainda nos traz a esperança de termos deixado um pouco de nós mesmos, de nossa cultura, do nosso país, em pessoas de vários outros países.
É muito bom ouvir um “eu gosto de você”, “você é um pessoa alegre”, ou mesmo receber um presente representando a amizade ou simplesmente as tentativas espontâneas de falar o seu nome: Rodorigo, Rod-rigo, Redingo, entre outras.
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