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Todo imigrante é embaixador do Brasil

Experiência

Todo imigrante é também um embaixador

Uma cena que provavelmente 9 entre 10 imigrantes brasileiros já viveram: Você está falando português na rua e alguém te aborda: “Que língua é essa? De que país você vem?” Começa aí a chance de falar um pouco sobre o Brasil, país que vai muito além de samba, caipirinha e futebol.

Lembro-me que há mais ou menos três anos anos eu estava no Rio de Janeiro conversando com uma amiga de um amigo, a qual é diplomata, quando falei sobre o meu projeto de imigrar para o Canadá. Tinha acabado de dar entrada no processo de imigração havia poucos dias, o sonho ainda tava começando a tomar forma, ganhar cores, ficar nítido na minha cabeça.

A colega diplomata, ao ouvir que eu estava me preparando para, dentro de um ano, deixar o Brasil e recomeçar a vida em um outro país, não disfarçou a surpresa: “Não sei como alguém é capaz de largar tudo e ir embora ‘pra sempre’ viver numa outra cultura, com outros costumes, outro idioma. Eu, tudo bem, que sou diplomata. Viajo o mundo todo, mas na condição de representante oficial do MEU país. E depois do trabalho, retorno, ou seja, NUNCA perderei minhas raízes, minhas referências, minha PÁTRIA”. Faltou pouco pra eu ouvir o hino “90 milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção…”.

Fazia tempo que não escutava um discurso tão ufanista assim, a ponto de dar até um certo enjoo. Dei um desconto. Ela tinha acabado de ser aprovada no concurso do Instituto Rio Branco e estava (obviamente) bastante entusiasmada com a nova profissão. Já eu na minha labuta, ao contrário da colega, já estava ficando cada vez mais cansada de ouvir tanta gente se queixando da injustiça, da violência, da pobreza e da corrupção que, infelizmente, são protagonistas do cenário brasileiro.

Hoje, depois de uns tantos meses aqui no Canadá, percebo que cada imigrante brasileiro que aqui chega traz consigo, (além de esperanças e expectativas de uma vida melhor) uma certa missão diplomática a ser cumprida. Já cansei de ser abordada na rua quando falo algo na minha língua materna: “Com licença, que idioma é esse? Português? Mas por que está tão diferente, você não mora em Portugal?” E lá vou eu dizer que não, que sou brasileira e que por isso meu sotaque é outro. E falo do clima, das cinco regiões, da população, das praias, do carnaval e, eventualmente, da violência, da corrupção e dos tristes contrastes sociais.

Só não suporto quando me chega alguém com um sorriso de sabe-tudo e solta: “Brasil? Ahhhh! Futebol, mulata e caipirinha, né?”. No começo me dava raiva, hoje já acho até graça e também não culpo muito as pessoas por tal comentário. Reconheço que essa é uma das imagens que mais se vendem do nosso país. E quem não lê, não se informa, cai no lugar-comum, fica limitado a saber três palavrinhas sobre um país tão rico em beleza e diversidade.

O pior é que muita gente que está aqui no Canadá (intencionalmente ou não) contribui para reforçar esse estereótipo de “Brasil: país das festas”, mas isso é um outro debate.

Outro dia eu estava almoçando, quando um cara da Bulgária me abordou (sim, com aquele sorrisinho irônico de canto de boca): “Brasileira? Então me diga uma coisa: a que horas vocês trabalham lá no Brasil, hein? Porque eu sei que lá vocês têm 300 dias de festa ao ano, né? Só muito calor e curtição!”.

Mal tive tempo de começar a digerir o que acabara de ouvir e ele emendou: “Aliás, vocês trabalham? Por acaso lá existem escritórios, universidades, empresas?”. Minha vontade era dizer que ele era muito burro mesmo. Que deveria pegar um livro de Geografia e estudar o mapa da América do Sul. Ou, recorrendo a mecanismos mais modernos, fazer uma breve pesquisa no Google. Afinal, em que mundo ele vive? Em que século? Meu Deus! Mas minha veia (verde-amarela) diplomática falou mais alto. Boa brasileira que sou, dei-lhe uma rápida aula de “brasilidade”. Pra ele, foi um tratamento de choque! Não sabia nada, nadinha sobre Brasil, o rapaz… depois do que falei, me garantiu que fará uma visita ao país assim que tirar férias. “Nada melhor do que ir ao país para conhecê-lo de verdade”, me disse ele. “Concordo. E, de preferência, vá em fevereiro. Uma ótima oportunidade pra curtir o carnaval, ver belas mulatas e provar a caipirinha”. Em seguida, me despedi.

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Julieta é curiosa, subjetiva e prolixa. É também contraditória o suficiente para admirar o que é simples. Não perde a oportunidade de puxar uma boa prosa, seja na fila do supermercado ou durante uma viagem de avião. Antes de tudo, se interessa por pessoas e pela origem das coisas. Desde os sete anos, quando seu pai comprou uma câmera vídeo, sonha em ser jornalista. O sonho a levou à Universidade Federal de Pernambuco, onde a recifense se formou em Jornalismo. Das brincadeiras com a câmera do pai, veio a paixão pelas telas e pela linguagem audiovisual. Começou na TV Universitária de Pernambuco, passou pela TV Alepe, TV Asa Branca (Caruaru/PE), TV Cultura e TV Globo Nordeste. Em 2008 se mudou para o Canadá, onde juntou sua experiência em televisão com a liberdade da internet. No OiCanadá, Julieta faz o que mais gosta e melhor sabe fazer: contar histórias.

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