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Experiência

Manual do ciclista

No verão, só dá ela: a bicicleta vira o meio de transporte favorito de quem mora em Toronto. Mal o calor chegou e Rodrigo Schmieglow já providenciou a dele. Mas para sair por aí pedalando pela cidade, o ciclista tem que ter responsabilidade e respeitar algumas regras para não levar multas.

Antes mesmo de chegar a Toronto eu já pensava em adotar a bicicleta como meio de transporte por aqui. Naquela paquera pré-viagem, eu observava pelo Google Street View um monte de bicicletas pelas ruas de Toronto e pontos especiais para estacioná-las.

Quando parou de nevar, quase que instantaneamente, comecei a ver cada vez mais pessoas aderindo à moda, deixando de lado carros e o transporte público. Afinal, a bicicleta é um meio de transporte ecológico, saudável e muitas vezes mais rápido do que o ônibus ou streetcar.

Resolvi então que era a hora de largar o metropass e voltar ao transporte que já usava com uma certa frequência no Brasil. Meu vizinho de quarto tinha uma magrela (outra forma de falar bicicleta em São Paulo, cidade onde nasci e moro) esquecida no canto, aí eu falei com ele, que me emprestou a bike, já que há mais de um ano não era usada.

Comecei então a viver a experiência de ter mais liberdade para circular, não ter que esperar ônibus, me exercitar, economizar e conhecer um monte de lugares para onde ainda não tinha ido. O único problema é quando chove. Rs

O interessante é que aqui as pessoas usam bikes para tudo: se estou na rua, por volta da meia-noite, passa um monte de gente arrumada para a noitada, algumas vezes até com roupa social, andando de bicicleta. De manhã é a mesma coisa, várias pessoas indo trabalhar pedalando, algumas vezes até levam o computador a tiracolo em uma daquelas malas quadradas.

Outro dia vi uma menina tombando no farol vermelho. O farol fechou, ela parou, mas como estava de vestido longo, não conseguiu pôr o pé no chão a tempo e caiu dura, para o lado, tadinha.

Ciclista respeitado

A cidade tem faixas especiais em algumas ruas e boa sinalização para quem usa bicicleta. No centro de Toronto, os carros respeitam bastante os ciclistas, e quando procuro algum percurso, o Google Maps me mostra as rotas mais apropriadas, onde encontro ciclovias e sinalização adequada.

O próprio site da prefeitura de Toronto tem um espaço especial para ciclistas, onde é possível encontrar as regras a serem seguidas, um mapa da cidade, além de eventos e notícias.

Fica a dica: caso você vá para muito longe e canse ou aconteça algo com sua bicicleta, você pode pegar transporte público fora do horário de pico, que é das 6:30am às 10am, e das 3:30pm às 7pm.

As regras

  • Seguir o fluxo do trânsito;
  • Andar com a bicicleta como se fosse carro: respeitar semáforos, andar pelo asfalto, respeitar faixas de pedestres, esperar o streetcar antes do ponto;
  • Sinalizar com as mãos, como se fossem setas, quando quiser virar ou parar;
  • O uso de capacete é recomendado, mas obrigatório apenas para menores de 18 anos;
  • Iluminação nas bicicletas: luz vermelha atrás e lanterna na frente é obrigatório para passeios noturnos.

E quem não respeita as regras, toma multa mesmo. A cantora Luanda Jones, carioca e cidadã canadense que vive em Toronto há seis anos, conta o que aconteceu com ela.

– Como foi que você levou a multa?

Eu atravessei de bike quando o sinal estava virando do amarelo pro vermelho. Daí, um carro de polícia, que estava parado no sinal, me mandou encostar imediatamente. Fiquei pasma! Nunca imaginei que isso pudesse acontecer.

– Não teve como negociar ou falar que era recém-chegada ao país?

Eu tentei negociar sim, claro. Até porque estava surpresa de estar sendo parada por um carro de polícia nessas circunstâncias. Sabia que em nenhum lugar do mundo seria bom atravessar o sinal vermelho. Mas, como ciclista carioca, confesso que eu era um tanto “desregrada”. Apesar de explicar que havia chegado há apenas dois meses a Toronto, o policial manteve sua postura fria comigo, deixando bem claro que aqui no Canadá as leis de trânsito para bikes existem e devem ser cumpridas.

– Como pagou a multa, na hora?

Ele pediu todos os meus dados (nome completo, endereço, ID e carteira de motorista). Como não tinha carteira de motorista, perguntei o porquê de ele me pedir o documento. Na mesma hora ele me disse que, se eu tivesse, seriam descontados pontos na minha carteira. Após minutos de silêncio e várias anotações que já estavam me descabelando, veio a bomba: C$180 dólares de multa!!!

O policial, ao ver minha cara de total surpresa e indignação (poxa… foi só um sinal vermelhinho…), imediatamente me avisou que, se eu quisesse, eu poderia recorrer da multa na Justiça, o que é bem comum aqui. Em seguida passou as orientações para o meu amigo, porque eu ainda estava em estado de choque… rsrsrs. A cobrança chegaria em casa, via correio.

– Você recorreu? Como foi?

A princípio a multa era $180, mas como recorri, paguei C$85. Quando fui fazer a aplicação para recorrer (na qual me declarei culpada, claro!) no comprovante falava que eu receberia uma carta dizendo quando seria convocada ao tribunal, o que só aconteceu um ano depois do ocorrido.

– Foi um policial civil quem aplicou a multa?

Sim, foi.

– Você estava sozinha? Só você tomou a multa?

Não estava sozinha, mas a pessoa que estava comigo era canadense e havia parado no sinal vermelho.

– Depois desse episódio, você continuou a andar de bicicleta?

Sim, e por incrível que pareça, acho que a multa foi a melhor coisa que me aconteceu. Passei a respeitar totalmente as leis, a me interessar sobre tudo o que for relacionado ao assunto e sempre divulgo as regras para as pessoas novas. Hoje uso capacete, luz traseira e da frente, buzina… enfim, tudo o que se precisa. Aqui realmente a lei é rigorosa e rígida com os ciclistas, mas faz total sentido.

Acho um barato poder andar por toda a cidade de bike, é uma sensação maravilhosa, principalmente no verão. Um meio de transporte barato, divertido e saudável. Só temos que prestar atenção nas leis e nos carros, claro.

Há pouco tempo troquei minha bike por uma e-bike, que também segue as mesmas regras de uma bicicleta normal.

Acho lindo parar no sinal vermelho e ser precavida. No fundo, todos sabem o que é o certo, mas sempre existe aquele “jeitinho” que queremos dar, né? Essa foi uma lição que aprendi!

Dica rápida para quem está querendo comprar uma bike:há a Mountain Equipament Coop, uma cooperativa que requer pré-cadastro, com uma taxa de C$5, e depois que a pessoa paga essa taxa, tem direito a comprar produtos para bikes com preços mais em conta, além de outros com essa marca, muito usada aqui no Canadá também para mochilas e roupas. Lá não tem apenas bikes e acessórios para isso, tem uma imensa variedade de produtos para esportes outdoors, rafting, montanhismo, canoagem, etc.

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Rodrigo Schmiegelow, um jovem que veio da cidade de São Paulo para se aventurar e descobrir Toronto. Publicitário formado em 2009, no curriculo possui experiência como designer gráfico, criativo em agencia de comunicação, e, nos ultimos três anos, tem trabalhado na área de Marketing. Nas horas vagas investe seu tempo em uma empresa de e-business que começou com uma sócia de criação e desenvolvimento web.

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