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Experiência

O vizinho e o papel toalha

Por volta das seis da tarde de ontem, eu ouvi alguém bater na minha porta. Achei estranho, pois não estava esperando ninguém, e ao abrí-la me deparei com o vizinho. Um canadense com seus 30 anos com quem eu tive contato poucas vezes.

A primeira foi exatamente no dia da minha mudança, há um mês e meio, quando nos esbarramos no corredor e ele educadamente falou um pouco sobre a “estrutura sonora” do prédio. Cheguei até a achar que ele já estava dizendo que era para eu ser cuidadosa com o barulho quando chamasse visitas, mas acabei descobrindo, na mesma semana, que o que ele quis dizer foi justamente o contrário. Ele já queria deixar explicado que, caso eu ouvisse uma eventual barulheira, que seria por causa da estrutura do prédio, e não das animadas festas que ele faz em casa quase todos os finais de semana, o que na verdade não me incomoda nem um pouco, já que também adoro festa.

Depois disso nos encontramos algumas vezes no corredor, mas foi tudo apenas na base do “Hello”. Até que, há duas semanas, eu estava recebendo amigos em casa (e, obviamente, ele também), e as duas portas foram abertas ao mesmo tempo. Quando me dei conta, alguns dos convidados dele, que já estavam “alegres”, entraram aqui em casa e começaram a conversar e interagir com os meus convidados. Foi quando um deles chamou todos que aqui estavam para ver a casa do amigo, e nós, muito curiosos que somos, não pensamos duas vezes. Sim, eu entrei na casa do meu vizinho para ver o apartamento dele a convite do amigo “alegre”.

Esta havia sido a última vez que eu tinha visto meu vizinho. Isso até ontem, quando ele bateu na minha porta, pediu desculpas pelo incômodo, e explicou que a casa dele estava suja e que precisava de um rolo de papel toalha. Isso mesmo, ele pediu emprestado o meu último rolo de papel toalha, (o que não vem ao caso) ao invés de atravessar a rua e ir no mercado NoFrills, que fica na frente do prédio.

Lógico que dei o papel toalha a ele e disse que não precisava devolver. Mas confesso que fiquei um pouco em choque, já que não sabia que aqui existia essa cultura de pedir a famosa “xícara de arroz” ao seu vizinho, como temos no Brasil. Tudo bem que o corredor só tem oito apartamentos neste andar e a maioria dos moradores são proprietários dos imóveis e não inquilinos mas, ainda assim, eu nunca havia imaginado. Já moro aqui em Toronto há cinco anos e vizinho algum nunca me pediu nada, muitos deles nem sequer olhavam nos meus olhos ou davam “Bom dia!”.

Minutos depois da inesperada visita, ouço alguém bater na porta do vizinho e mais uma festinha começava. Realmente ele estava com pressa e precisava limpar a casa naquele exato momento. É uma boa explicação. Eu achei o máximo, ja que sempre achei que canadense faz de tudo para não incomodar ninguém e ele poderia ter dado uma corridinha no mercado ou limpado a sujeira com algum pano, sei lá.

A minha dúvida é se fui eu que dei o primeiro passo e ”quebrei o gelo” ao entrar na casa dele e agora não tem mais volta, ou se essa cultura de vizinhos se ajudarem aqui em Toronto realmente existe, ou se foi um ato de total desespero dele, que precisava muito limpar a casa em 5 minutos.

Então fica aqui a minha pergunta: como é o seu vizinho? Além de reclamar do barulho, ele já bateu na sua porta para pedir uma xícara de arroz ou açucar?

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Martha se formou em Jornalismo em Recife e veio para Toronto em 2006 para estudar Cinema, se formando pela Toronto Film School. Tornou-se cidadã canadense em 2014.

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