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Trabalhar durante o intercâmbio: aprendizado que a escola não proporciona

Quando a gente decide fazer um intercâmbio nos vemos em meio a dezenas de dúvidas: qual país escolher, a melhor escola, programa de estudo, acomodação, entre outras questões. Prestes a completar 1 ano no Canadá e fazendo uma retrospectiva do que vivi nestes meses, cheguei à conclusão de que uma das minhas melhores escolhas foi optar pelo programa de Study and Work (estudo e trabalho) onde o estudante tem a permissão para trabalhar pelo mesmo período em que frequentou a escola de idiomas.

O programa funciona da seguinte maneira: se você decidir fazer um intercâmbio de 6 meses, terá 3 meses de aulas + 3 meses de permissão para trabalhar. No meu caso, estudei durante os 6 primeiros meses e desde setembro do ano passado estou apenas trabalhando. A escola acompanha o seu desempenho no trabalho e mensalmente você deve responder a um questionário enviado por eles. Além do Canadá, os únicos países que oferecem este tipo de programa são Australia, Nova Zelândia, Irlanda, África do Sul e o Reino Unido.

Jamais teria o nível de inglês que tenho hoje se a minha estadia aqui se resumisse às aulas numa escola de idiomas. É claro que a gente aprende bastante na sala de aula. Principalmente se você chega no outro país com o inglês no nível “the book is on the table”. Mas para quem já vem sabendo bastante, sugiro que opte pelo visto com permissão para estudo e trabalho.

Na escola, você fica em contato com estudantes de diferentes níveis de fluência, que cometem os mesmos erros que os seus. Além disso, formam-se os grupinhos de gente do mesmo país e ai é que o inglês muitas vezes não evolui. Conheço muita gente que investiu bastante dinheiro num programa de intercâmbio e voltou para o país de origem com o inglês ainda em nível básico.

Quando trabalhamos, estamos em contato o tempo inteiro com pessoas que possuem o inglês como primeira língua. A gente não só melhora na conversação, como também no “listening” e na capacidade de formular frases mais rapidamente. No trabalho a gente aprende o coloquialismo, o jeito que as pessoas falam na rua e não a forma corretinha que aprendemos na escola. Isso é muito importante para que durante uma conversa não deixemos a impressão de “acabei de sair da aula de inglês”.

E um ponto super, hiper, mega importante: trabalhando nós ganhamos dinheiro. Pois a vida de intercambista não é barata! Nos trabalhos mais comuns procurados pelos estudantes internacionais, como lojas, restaurantes e cafeterias, o valor do salário é definido pela quantidade de horas trabalhadas. Cada hora custa em média entre 10 e 15 dólares. Durante a entrevista você deve deixar claro se está procurando algo “full-time” que seria período integral (mais ou menos entre 30 e 40 horas semanais) ou “part-time”, quando você trabalha dois ou três dias apenas para ganhar uma grana extra e conciliar com os estudos.

Conseguir um emprego não é difícil. Mas é preciso ser persistente, mostrar-se seguro durante as entrevistas e caprichar no inglês. Caso você já tenha uma formação e, a depender da sua profissão, você pode até conseguir algo na sua área. Não é impossível. No meu caso, formada em jornalismo, já não é tão fácil, pois é preciso dominar a língua para escrever matérias ou trabalhar em um canal de televisão.

Aqui no Canadá eles têm uma cultura de entrevistas em grupo. Portanto, imaginem o meu nervosismo na primeira entrevista? Eles costumam fazer uma pergunta e deixar que os candidatos levantem a mão se quiserem responder. Em outras situações eles simplesmente apontam pra você e logo em seguida fazem uma pergunta.

Quando faltava um mês para as minhas aulas terminarem, comecei a distribuir o meu curriculum em dezenas de lugares, preenchi diversos formulários online e participei de cerca de 15 entrevistas. Passei nas seleções da Starbucks, GAP, GAP Baby, Victoria’s Secret e The Bay. Como somente a Starbucks não era loja em shopping e estava bem próximo ao Natal, decidi que era a melhor opção, pois não corria o risco de ser demitida após as festas de fim de ano.

Uma boa dica é fazer o que fiz e começar a procurar o emprego antes das aulas acabarem. Alguns lugares demoram bastante para dar um retorno. Outra coisa que é bastante importante aqui no Canadá são as referências. Eles pedem geralmente 3 nomes de ex-chefes ou colegas de trabalho. E já que somos intercambistas, fica difícil. O que eu fiz foi colocar nome e e-mail de alguns professores, além de uma funcionária da escola – claro, depois de pedir permissão para dar o número deles e depois de combinar o que eles falariam caso ligassem. E eles ligam mesmo! A gerente da Victória’s Secret entrou em contato com a minha ex gerente no Brasil através de e-mail e fez um monte de perguntas.

Estou na Starbucks há cinco meses e a experiência está sendo fantástica. Além de ser a maior rede de cafeterias do mundo, com lojas espalhadas em 61 países, a equipe que trabalha comigo é super paciente e o trabalho é realizado de forma extremamente organizada, com padrões rígidos de qualidade. Logo que somos contratados passamos por um mês de treinamento intenso, e eu na primeira semana chorei de desespero achando que jamais aprenderia tudo aquilo. Além de nunca ter trabalhado em nada parecido com uma cafeteria, eu ouvia centenas de palavras novas todos os dias e tinha que aprender a fazer uma infinidade de bebidas seguindo a rotina impecável imposta pela empresa. Mas eu sabia que o aprendizado viria no dia a dia e que era preciso ser paciente.

No final das contas, achar um emprego durante o intercâmbio não tem segredo. Basta ser humilde, estar disposto a trabalhar em horários inusitados (em alguns dias começo o meu turno às 5 da manhã!), bater de porta em porta com o CV embaixo do braço, e, durante as entrevistas, mostrar maturidade e que está disposto a aprender. Depois, é só esperar que a vaga guardada para você apareça e aproveitar a oportunidade como uma experiência de vida que só tem coisas boas a te acrescentar.


foto: FullbridgeProgram

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Aritta Valiense é baiana, formada desde 2009 em Jornalismo com especialização em Comunicação Política. Possui experiência em Assessoria de Imprensa, Webjornalismo e jornalismo impresso. Veio para Toronto no início de 2012 para estudar inglês durante um ano, se apaixonou pelo Canadá e decidiu estender a permanência no país.

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