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Brasileiro é considerado um dos melhores poetas canadenses

Ricardo Sternberg já traduziu Drummond, trocou cartas com Elizabeth Bishop, ganhou bolsa para estudar poesia em Harvard, e agora lança novo livro Some Dance.

O último livro de poesias de Ricardo Sternberg, lançado esta semana em Toronto, reúne trabalhos dos últimos 11 anos da vida do autor. Professor de literatura brasileira na Universidade de Toronto há 35 anos, Sternberg domina a língua inglesa como poucos, e tem reconhecimento internacional por sua habilidade com a mesma.

Na última terça-feira, a livraria Ben McNally ficou repleta de amigos e admiradores, que compraram todas as cópias disponíveis de Some Dance. Antes da leitura de alguns de seus poemas, Ricardo dedicou seu livro à esposa, Christine, e, pela organização do evento, agradeceu a ajuda do coreógrafo e amigo de longa data, Newton Moraes.

Ricardo Sternberg

Em conversa que tivemos por telefone, alguns dias depois, comentou que Some Dance tem estrutura diferente de seu trabalho anterior, Bamboo Church, onde os poemas são apresentados sem nome, mas em seqüência: “Dessa vez queria misturar mais as coisas… e por isso tenho pensado em qual a melhor forma de apresentar uma leitura”.

Na primeira parte do livro, um homem sentado de frente para o mar (meio bêbado, meio dormindo), mistura realidade com ficção e novelas de TV; os poemas da segunda parte, porém, não necessariamente têm de ser lidos na ordem em que são apresentados, “neste livro está mais explícita a ideia de que uma historia leva a outra”.

Sternberg é um grande embaixador da literatura brasileira; PhD em Literatura Comparativa pela Universidade da Califórnia, já publicou trabalhos de grande expressão, como a tradução de textos de Carlos Drummond de Andrade.

Amigos leitores do OiCanadá, todos aqui sabemos dos desafios de transmitir ideias de nossa língua-mãe para o inglês. Eu mesmo já escrevi artigos sobre expressões canadenses para este blog, o que me faz admirar muito o trabalho de Ricardo.  Transmitir as emoções, sutilezas, e identidade de consagrados poetas brasileiros é uma tarefa árdua, de grandíssima responsabilidade – e honra.

“O poema tem que estar vivo na nova língua”, diz Sternberg. “Existem expressões, como ‘take to heart‘, em que o uso da palavra ‘heart‘ tem uma voltagem muito maior do que a tradução direta ‘levar a sério'”. Neste processo em que hora se é beneficiado pela tradução, hora tem de se conformar com as restrições que a outra língua oferece, Ricardo busca um balanço final que mantenha a peso poético do texto, “Perde-se aqui, ganha-se ali”, conclui.

Ainda sobre Drummond, revela que amadurece há 5 anos a tradução do poema ‘O Caso do Vestido’. Conta também que, em seus primeiros contatos com o poeta, recebeu uma carta atestando seu contentamento em “estar sendo traduzido por um jovem em Pokatello, Idahoo”; comentário carregado de certa ironia, pela distância geográfica e cultural.

Os pais de Ricardo tinham contato com Elizabeth Bishop, que se correspondeu com Sternberg no final da década de 70, quando ele passou a fazer parte da Society of Fellows, da Universidade de Harvard. “Fui indicado por meus professores da UCLA por meus poemas, o que levou ao convívio com Elizabeth”, conta.

Bishop, uma das mais importantes poetisas americanas do século passado, morou no Brasil por 14 anos, onde viveu um romance com a renomada urbanista e paisagista brasileira, Lota de Macedo Soares. Após o trágico suicídio de Lota, voltou aos Estados Unidos, onde passou a lecionar em Harvard até os últimos anos de sua vida. Um pouco de sua história foi contada no filme brasileiro Flores Raras.

“Acredito que eu representei pra Elizabeth um Brasil que ela havia perdido”, diz Ricardo. “Ela captava muito bem o relacionamento social-econômico do Brasil, como no poema ‘Manuelzinho’, que era o jardineiro.”

Sternberg acabou herdando muitos livros de Bishop, sendo muitas obras assinadas ou dedicadas à Lota; destaca com entusiasmo uma cópia da primeira edição de Macunaíma, e dois exemplares originais de Estrela da Vida Inteira, de Manuel Bandeira.

Sobre o processo de criação e curadoria, brinca: “intacto não fica nada, eu sou um ‘re-escrevedor’.”

Ricardo fará leituras de Some Dance em festivais como Word on The Street (CBC), Niagara Literary Arts Festival e The Art Bar Poetry Series.

Para conhecer mais sobre sua história, visite os links para seu website, uma crítica excelente no National Post, e uma página com traduções de alguns de seus poemas -por Maria Lucia Martins – com as quais ficou extremamente satisfeito (PDF).

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Leonardo Tenan é jornalista, formado pelo Sheridan College, já tendo trabalhado para a TV Globo Internacional, TIFF Toronto International Film Festival, e tendo seu atual projeto de documentário aceito no Hot Docs Doc Accelerator program. Há 3 anos é produtor do BRAFFTV Festival de Filmes Brasileiros em Toronto.

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