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Na saída do aeroporto de Toronto, a dúvida: pegar um táxi ou encarar o transporte público? Julieta Jacob conta sua experiência e mostra por que vale a pena escolher a segunda opção.

Quando se chega a Toronto, uma das primeiras coisas que se vê ainda no aeroporto ao deixar o avião é um painel que estampa a frase “Welcome to Canada”. Recepção tão simpática quanto calorosa, apesar da fama que o país carrega de ser uma terra gelada e de gente fria. Depois de alguns meses no Brasil, estou de volta ao Hemisfério Norte. Não foi a primeira vez que eu o vi, mas confesso que ter sido recebida pelo tal painel de boas-vindas no aeroporto provocou um riso espontâneo no meu rosto preguiçoso de quem tinha passado quase 10 horas voando. Em seguida, a constatação: não pelo painel, nem pela frase, mas o Canadá sabe mesmo receber bem quem aqui chega. E, pra isso, não precisa de muita coisa. A experiência que tive assim que desembarquei em Toronto há três dias resume um pouco o que quero dizer.

Segunda-feira, 6h30 da manhã. Na porta do aeroporto, avalio se devo pegar um táxi ou transporte público para ir para casa. Em outras palavras, tive que escolher entre o conforto de ser deixada na porta de casa por um motorista particular ou ter que encarar um ônibus + metrô + uma breve caminhada até meu destino final. A decisão parecia óbvia. Até porque, meses atrás, eu tinha vivido uma situação semelhante no aeroporto de Brasília. Como sempre pegava táxi, decidi fazer diferente. Escolhi a segunda opção e tive uma experiência desastrosa. E olha que, nesse caso, era ainda mais simples, pois eu precisava de apenas um ônibus pra chegar em casa. A única parte boa da história foi o fato de a parada ser bem em frente à saída do aeroporto. Vamos à saga. Desafio 01: subir os degraus do ônibus com a minha mala de 20 kg e depois passá-la pela roleta. Talvez um haterofilista tivesse ficado com água na boca diante da cena, mas infelizmente não havia nenhum por perto. A façanha só foi possível com a ajuda de um solidário e musculoso passageiro. Vale dizer que o ônibus só tinha uma porta, portanto passar a mala pela roleta era inevitável. Além disso, como o corredor era bem estreito, a mala ficou atrapalhando a passagem. Desafio 02: repetir o esforço de suspender a mala na descida do ônibus. Aí já não pude contar com o tal passageiro, que não estava mais lá. Aliás, já não tinha mais quase ninguém no ônibus. Juro que por instante cogitei abandonar a bagagem dentro do ônibus e ir embora. Até que num incrível momento de esforço sobrenatural, levantei a mala e joguei o trambolho para o outro lado. Vale dizer que o ônibus era daqueles sem cobrador, do contrário imagino que ele bem poderia ter me dado uma mãozinha. No fim das contas, tudo isso fez o ônibus ficar parado uns uns cinco minutos e ainda me rendeu fortes dores musculares e na coluna, além de alguns hematomas. Levei quase uma hora pra chegar em casa e gastei dois reais. Estávamos, eu e mala, quebradas. Ela teve que ir para o lixo. Já eu, decidi dormir um pouco e sonhar que estava dentro de um táxi.

Pois bem, voltemos a Toronto. Enquanto analisava a situação, lembrei-me do episódio de Brasília. Apesar de estar sozinha, cansada e novamente com uma mala de 20 kg, decidi repetir a experiência e optei pelo transporte público. Desta vez, não me arrependi. Menos de dois minutos de espera na parada (que fica em frente ao aeroporto), o ônibus chega. Ao me ver, o motorista prontamente aciona o botão que rebaixa o veículo para nivelar o degrau com a calçada e facilitar a minha entrada com a bagagem. Não precisei de ajuda nem de esforço. O ônibus não tem roleta e dispõe de espaço suficiente para que os passageiros acomodem a mala sem atrapalhos. Quinze minutos depois chegamos à estação Kipling, onde não tive que pagar novamente pela passagem. É que o sistema de transporte de Toronto é integrado e eu já havia pago no ônibus. Na estação, desci por uma escada rolante, entrei no trem.

O vagão estava cheio de gente indo pra escola e pro trabalho. Eu minha mala dividimos o espaço com um homem em uma cadeira de rodas,  uma mãe com um carrinho de bebê, além de outros passageiros com livros a tiracolo. Em silêncio, observei aqueles rostos compenetrados em suas leituras solitárias. Faltava pouco pra chegar em casa.

Subi de novo por uma escada rolante, saí da estação e puxei minha bagagem por mais quatro quarteirões até meu destino final. Sem ter enfrentado nenhum transtorno, eu e minha mala de 20 kg chegamos em casa com tranquilidade e segurança. O percurso todo durou cerca de 30 minutos e me custou três dólares. Já o táxi, embora um pouco mais rápido, não teria me saído por menos de 50 dólares. Não pela economia, mas pela chance de ter experimentado a cidade sem medo nem stress, a decisão de descartá-lo não teve preço.

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Julieta é curiosa, subjetiva e prolixa. É também contraditória o suficiente para admirar o que é simples. Não perde a oportunidade de puxar uma boa prosa, seja na fila do supermercado ou durante uma viagem de avião. Antes de tudo, se interessa por pessoas e pela origem das coisas. Desde os sete anos, quando seu pai comprou uma câmera vídeo, sonha em ser jornalista. O sonho a levou à Universidade Federal de Pernambuco, onde a recifense se formou em Jornalismo. Das brincadeiras com a câmera do pai, veio a paixão pelas telas e pela linguagem audiovisual. Começou na TV Universitária de Pernambuco, passou pela TV Alepe, TV Asa Branca (Caruaru/PE), TV Cultura e TV Globo Nordeste. Em 2008 se mudou para o Canadá, onde juntou sua experiência em televisão com a liberdade da internet. No OiCanadá, Julieta faz o que mais gosta e melhor sabe fazer: contar histórias.

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