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Ocupando Toronto

O movimento Occupy Wall Street, que se espalhou por todo os EUA em pouco menos de um mês, serviu de inspiração para protestos no mundo inteiro. No final de semana, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas nos cinco continentes para apoiar a causa e protestar. Há quem critique essas manifestações, mas, segundo Bruno Vompean, o importante é sair para as ruas. Veja o porquê.

A onda revolucionária que levou sociedades inteiras às ruas no Oriente Médio, derrubando governos na Tunísia, Egito e Líbia, chegou ao ocidente. O movimento Occupy Wall Street, que foi concebido originalmente pelo grupo canadense Adbusters, se espalhou por todo o território estadunidense em pouco menos de um mês.

Dezenas de milhares de pessoas já sairam às ruas para dar voz ao protesto, demonstrando sua insatisfação com a desigualdade social e econômica de seu país.  E neste final de semana, centenas de milhares de pessoas fizeram o mesmo por todo o mundo.

Diferente da primavera árabe, a meta de quem “ocupa” o distrito financeiro de Nova Iorque não é derrubar o governo, mas restaurar o lugar do cidadão comum na democracia. Como disse o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore em uma palestra em Toronto essa semana, a democracia dos EUA foi “hackeada” pelo sistema financeiro, pelo capitalismo desenfreado. Podemos dizer, então, que os manifestantes querem livrar o sistema político das influências de lobistas e capitalistas, e quem sabe, até mesmo do vírus instaurado pelos “hackers”, o consumismo igualmente desenfreado.

No Brasil, manifestações públicas também vêm ganhando força. Este ano na “Marcha da Maconha”, por exemplo, manifestantes a favor da descriminalização da cannabis, e sua regulamentação, se reuniram por todo o país. No entanto, diferentes tribunais tornaram os protestos ilegais, e os manifestantes tiveram que lutar, antes de mais nada, pelo seu direito de liberdade de expressão, que é fundamental. A manifestação ganhou força com a “Marcha da Liberdade”, e por unanimidade, o STF decidiu pela legitimidade da manifestação. Por alguns instantes, parecíamos ter voltado aos tempos de chumbo.

Mais recentemente, manifestações contra a corrupção têm levado milhares de brasileiros às ruas das principais cidades do país. A primeira “marcha” ocorreu no dia 7 de setembro e a segunda no dia 12 de outubro, e muitas cidades viram o número de manifestantes multiplicar neste período. Recife, por exemplo, registrou apenas 40 pessoas no primeiro evento mas mais de 400 no segundo. Em Brasília, o número foi de 15 mil manifestantes em setembro para mais de 20 mil em outubro. Há quem critique essas manifestações por terem um discurso relativamente vazio e até desinformado. E isso é bom, afinal, é justamente sob críticas que movimentos como esse crescem e ganham força. Agora, criticar a natureza de um protesto sem ter nada a acrescentar não só não ajuda, mas atrapalha. O importante é retomar as ruas, e junto com ela, a voz da população, que foi perdida em meio de tantas nulidades.

De certa forma, a “Marcha contra a Corrupção” tem os mesmos objetivos que o “Ocupe [insira o nome da cidade aqui]”. Mas se nos EUA a população protesta principalmente contra a influência de grupos capitalistas na agenda política do país, no Brasil as manifestações são contra as próprias instituições públicas e políticos corruptos, que têm o Estado como uma extensão de suas posses. De qualquer forma, ver milhões de pessoas de países de realidades políticas, econômicas e sociais tão distintas, como o Brasil e o Canadá, por exemplo, lutando pelo mesmo objetivo, é no mínimo interessante. E inspirador!

Entre as finalidades do Occupy Toronto Market Exchange, estão demonstrar soliedariedade para com os manifestantes dos EUA – até porque o quadro sóciopolíticoeconômico estadunidense tem significante impacto por aqui – e protestar contra a desigualdade social, que cresce cada vez mais não só em Toronto mas também em todo o país. Mas, assim como no Brasil, há muitas pessoas que criticam a manifestação por aqui, principalmente pela amplidão dos discursos e a falta de exigências específicas.

Como já disse, eu não vejo problema nisso, e penso, inclusive, que isso serve para motivar os protestos. Um dos marcos deste movimento é que qualquer indivíduo pode participar das manifestações, independente de idade, cor, gênero, orientação sexual, e até inclinação política. Não é preciso se encaixar em algum rótulo pré-definido para que se possa protestar, e o único pré-requisito é acreditar que um mundo menos injusto e mais igualitário é possível.

Mas uma coisa que o Occupy Wall Street e os demais movimentos ainda precisam enfatizar, é que não foi só a ganância dos 1% mais ricos da população que criou a desigualdade sócio-econômica que protestamos hoje. Sem o silêncio, ou seja, sem o consenso da maioria dos que integram os 99% da população, nada disso seria possível. Portanto, se nossa “democracia” não pode garantir um governo honesto, que procura solucionar a crise climática com energia renovável, a miséria com distribuição de renda, e a criminalidade com educação, nossa voz garantirá. E não é preciso dizer nem acreditar que estamos fazendo revolução. Eu fico feliz pensando que tudo isso não passa de evolução.

Ocupemos, então, não só os distritos financeiros das grandes metrópoles, conforme a meta inicial da manifestação. Ocupemos as ruas de nossas próprias cidades, e os parques. Afinal, se a parte do mundo que é reconhecidamente desenvolvida está revoltada – e com razão –, imagine nós.

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Bruno é natural de Santo André (SP) e mora no Canadá desde 2007, onde estudou Filosofia e Criminologia na Universidade de Toronto até 2014. Mantém os blogs Enganos Mundanos e Conditioned Things.

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