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Um Ano em Toronto: Viajar pode ser uma viagem

Você sabe o que te faz rir? Sabe o que te faz chorar? Se arrepende mais do que fez ou do que deixou de fazer? Eu sei, parecem perguntas típicas de uma entrevista de emprego mas no fundo são questões que – seja você uma pessoa reflexiva ou não – mais cedo ou mais tarde vão passar pela sua cabeça durante suas semanas, meses ou anos longe de casa.

Como comentei no post anterior, antes mesmo de ser um período de estudos e/ou trabalho, a viagem ao Canadá é uma oportunidade única de autoconhecimento, onde podemos perceber como reagimos em relação às mudanças da vida ou nos sentimos quando postos frente à frente com a sensação de solidão, euforia, distância, saudade, alegria, arrependimento ou tristeza.

A notícia “ruim” é que você pode passar por metade ou até todas elas, dependendo do tempo que vai ficar fora.

A notícia “boa” é que com qualquer uma delas você vai amadurecer e aprender coisas que escola alguma pode ensinar.

Antes de mais nada é importante estar claro que tudo varia de acordo com cada pessoa, mas o primeiro sentimento geralmente é uma mistura de medo e empolgação. Medo porque desde que o ser humano é humano, ele precisa de segurança (“…você precisa de alguém que te dê segurança, senão você dança…”), precisa ter certeza de que as coisas estão “sob controle”. Por isso criamos hábitos, rotinas e principalmente projeções como dinheiro, status e diversas outras formas para que conheçamos o território, saibamos onde e com quem estamos para que assim possamos nos sentir seguros como espécie, “garantindo nossa existência”. Trocando em miúdos: Precisamos de um porto seguro.

Por outro lado, se não saíssemos para caçar, explorar e buscar o novo e transcender, estaríamos extintos. E é isso que nos deixa empolgados; é quando somos instintivos o suficiente para saber que mesmo tendo uma cama quentinha nos esperando, queremos – e podemos – fazer algo a mais, sair da zona de conforto e nos tornarmos livres novamente, mesmo que isso ameace a nossa vida certa e segura.

OK, não precisamos mais caçar, basta ir ao supermercado. O tempo passou e os desafios agora são outros mas ainda guardamos na memória os mesmos sentimentos de nossos ancestrais.

O Homem a Procura de Si Mesmo – Rollo May.

O Homem a Procura de Si Mesmo – Rollo May.

Mas o que tudo isso tem a ver com a viagem? Viagem é ficar pensando isso, certo? Talvez.

O motivo disso tudo é que os sentimentos existem, sempre existiram e vão continuar existindo. Eles derrubam pessoas de qualquer idade, raça, peso, sexo ou gosto. Por mais que possamos fazer festas, nos divertir, conhecer gente nova, uma hora vamos lembrar da nossa terra ou da nossa família.

Até embarcar você sente ambas sensações, talvez até mais euforia do que receio, mas quando o avião pousa e você precisa – sozinho – se virar, comprar um café, achar uma casa ou arranjar um emprego, aí as coisas começam a ficar interessantes.

Na primeira semana sua cabeça vira do avesso com tantas novidades e qualquer programa de índio vira diversão. Você vai aos pontos turísticos, entende a cidade, percebe o quanto compreende ou não a língua inglesa, nota a diferença no sabor da Coca-Cola… e quando tudo está indo bem bate a saudade de casa. Talvez na segunda semana ou no segundo mês, tanto faz, mas não se preocupe, faz parte do pacote. Nessas horas, mesmo que não seja a melhor coisa para o seu inglês, conversar com alguém da mesma língua pode ajudar.

Mas existem os momentos bons! Sim! E são vários.

Descobrir onde comprar roupas boas e baratas, achar um bom restaurante, conhecer gente do mundo inteiro (literalmente), enfim, coisas boas acontecem e com mais frequência do que você pode imaginar. Se eu pudesse resumir, diria que quando você consegue algo, é surpreendido positivamente ou atinge um objetivo, automaticamente você percebe que valeu a pena cada esforço.

Por outro lado, quando você falha em algo, erra ou não consegue alguma coisa, a tendência é pensar que foi tudo um grande erro, uma péssima ideia.

O segredo? É passar por ambos os extremos – vitórias e derrotas – e ao invés de rir ou chorar, amadurecer; entender que tudo na vida é um aprendizado; que por mais que você não entenda ou não possa ver, tudo serve como lição; até porque no fim das contas a vida é isso, um acumulado de erros e acertos, apostas e certezas.

Uma coisa posso te garantir: você vai experimentar os dois lados da moeda. O que eu não posso garantir é se você vai gostar ou odiar. Mas é fácil saber; no final some todas as alegrias e risos contra os momentos de lágrimas e saudades; o que pesar mais ou fizer seu coração bater mais forte vai mostrar o seu futuro, ou pelo menos como ele poderia ter sido.

à direita, Sophia.

à direita, Sophia.

Quanto a mim? Eu sei, ninguém perguntou; mas ainda prefiro o barulho do cascalho, do chão batido e do cheiro de terra molhada depois da chuva enquanto caminho, com meu tênis já gasto e com minha fiel companheira (Sophia) nas costas, observando as coisas que vejo e que nunca se repetirão; as árvores que toco pela primeira e última vez; as pessoas que deixam seus curtos recados na minha vida e os momentos que não voltam atrás.

Ainda não sou um caçador nato mas estou aos poucos saindo da caverna e só sei que não nasci para ter meu nome na porta de um escritório.

Eu quero o mundo. Esse mesmo que me pertence, esse mesmo a qual pertenço.

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Endrigo Giacomin, gaúcho, 27 anos, publicitário e (assim espero) futuro psicólogo. Viciado em livros e chimarrão, resolvi que era hora de começar a realizar os meus sonhos; começando por um ano em Toronto, passando por uma nova faculdade, um mochilão pelo mundo e sabe-se lá o que mais pode surgir nessa busca incessante pelo autoconhecimento.

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