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Eu amo Toronto, mas odeio (…)

A maior metrópole do Canadá é conhecida pela sua diversidade cultural, excelente qualidade de vida e por ser um dos principais centros financeiros do mundo. Mas apesar de todas as vantagens que Toronto oferece, ela não é perfeita. Mesmo atraindo milhares de pessoas todos os anos de diversas partes do mundo, algumas coisas na cidade incomodam muita gente.

Toronto é sem dúvidas uma cidade cosmopolita. Segundo um censo realizado no Canadá em 2006, das 5 milhões de pessoas que vivem na cidade e seus arredores, quase 50% são imigrantes. A maior metróple do Canadá é também o lugar preferido de quem escolhe o país para viver. Só no ano passado, mais de 90 mil pessoas imigraram para Toronto.

São muitos os motivos que atraem tanta gente para Toronto. Além de uma localização geográfica privilegiada (situada próxima à fronteira com os Estados Unidos e à província de Quebec e banhada pelo lago Ontário), a cidade é considerada o maior centro econômico do Canadá. De acordo com um estudo feito pela PriceWaterhouseCoopers (PwC), uma das maiores empresas de serviços profissionais do mundo, a capital de Ontário ocupa o segundo lugar na lista das cidades que oferecem maiores oportunidades no mundo, atrás somente de Nova Iorque.

O relatório da PwC apontou Toronto como grande destaque na área de saúde, segurança, turismo e inovação e foi considerada a melhor cidade em qualidade de vida, ar puro, esporte e lazer. O motivo que fez com que ficássemos atrás de Nova Iorque tem a ver com o transporte e a infraestrutura.

Mau serviço ao consumidor e passagem cara

Não é surpresa nenhuma que o TTC (Toronto Transit Comission – o transporte público da cidade) tenha contribuido para uma “imagem negativa” de Toronto na pesquisa no que diz respeito ao transporte. Além de ter uma das passagens mais caras do mundo (C$3 por trajeto), a qualidade do serviço ao consumidor é lamentável. O problema é tão grave que devido ao grande número de reclamações, a empresa contratou em março desse ano um especialista em atendimento ao cliente que veio da Inglaterra para Toronto com a missão de melhorar o serviço prestado pelos funcionários.

O mau atendimento ao consumidor do TTC é “odiado” por muita gente na cidade. Uma dessas pessoas é a estudante cearense Lívia Fonseca, que mora em Toronto desde 2007. “Muitas vezes o streetcar fica cheio de gente, principalmente na frente. Ao invés de alguns motoristas pedirem para que eles caminhem para a parte traseira do veículo, dando espaço para novos passageiros, eles simplemente ignoram. Existe até uma mensagem eletrônica no streetcar para isso, basta eles apertarem um botão. Só que isso muitas vezes não acontece”, ressaltou.

Assim como Lívia, a estudante Isabela Queiroz não é grande fã do transporte público da cidade. “Alguns motoristas param o ônibus para comprar lanche e passam até 15 minutos comendo e todo mundo esperando. Se você reclama, eles se sentem ofendidos e partem para a ignorância. Os funcionários que trabalham nas cabines vendendo os bilhetes são outros grossos. Já perdi a conta de quantas vezes eu presenciei briga deles com os passageiros”, relata a gaúcha de Bento Gonçalves.

Os maus funcionários do TTC não são os únicos “odiados” de Toronto. Uma das personalidades que faz parte da lista de “indensejáveis” é o prefeito da cidade, Rob Ford. Apesar de ter vencido as eleições em outubro do ano passado, ele tem sido alvo frequente de críticas e sarcasmo por parte da imprensa local, criando polêmica por alguns comentários relacionados aos orientais e aos homossexuais e por não ter cumprido algumas promessas de campanha eleitoral. “Para mim ele é um homofóbico, racista e não passa de um idiota. Não consigo pensar em nada pior em Toronto do que Ford. Ele me dá nojo”, desabafa a estudante de jornalismo, Diana Shah, que participou da Semana do Orgulho Gay de Toronto, em julho, fantasiada de Rob Ford. “Ele se recusou ir ao evento, mas eu nunca vi tanto Rob Ford na minha vida em um só lugar”, diz ela se referindo a diversas pessoas que, assim como Diana, usaram máscaras com o rosto do prefeito, protestando o fato de Ford ter se negado a comparecer à parada porque iria passar o final de semana com sua família na casa de campo.

Assim como Rob Ford, alguns animais na cidade aborrecem muita gente. Um deles é o guaxinim (conhecido no Canadá como racoon, animal bastante popular em Toronto, fácil de ser encontrado andando pelas ruas da cidade) que chega a incomodar muita gente, como a gerente de recursos humanos Crislane Ackerman. “Eles comem meu lixo e eu tenho que lidar com isso no dia seguinte. Eu jamais mataria algum deles, mas gostaria que fossem mais civilizados e não comessem o meu lixo”, afirmou ela.

Frio de Toronto

O inverno de Toronto, apesar de não ser tão rigoroso quanto o de outras cidades do Canadá, como Winnipeg, Calgary e Yellowknife, é bastante incômodo para quem está acostumado com o clima tropical brasileiro. A estudante e atriz alagoana Gabriela Paixão é uma das pessoas que detesta o frio da cidade. “Estou no Canadá há quase três anos e eu ainda não me acostumei. Não tem casaco, cachecol e luva que resolva o meu problema. Minha mão congela, minha garganta dói. Teve um dia no inverno passado que eu achei que fosse parar no hospital quando tive que esperar um ônibus por quase uma hora”, disse ela.

O frio da cidade não dura o ano inteiro, mas é responsável por deixar a água dos lados gelada por muito tempo (mesmo em meses mais quentes), e isso é uma das coisas que aborrece a jornalista Ingrid Coifman, que mora em Toronto desde 2007. Apesar de ter nascido em Manaus, Ingrid morou no Ceará desde criança e se considera cearense. Acostumada com as praias de água morna do nordeste brasileiro, ela não tolera a temperatura do lago em Toronto. “Num dia de sol quente quero muito me refrescar nos lagos e nadar à vontade, mas quando ponho os pés na água está sempre geladíssima. O meu marido enfrenta e mergulha. Eu desisto quando a água chega na cintura”, admite ela, que encontrou uma solução alternativa nas piscinas públicas da cidade. “A água é gelada também, mas menos que a dos lagos”, completa.

Apesar de quase sempre geladas, as praias da cidade são consideradas uma das melhores para banho no que diz respeito à qualidade de água, mas infelizmente não têm grandes ondas. E isso incomoda o pernambucano Rodrigo Cortez, que está no Canadá há quase 6 anos. “Antes de vir para Toronto eu sabia que não tinha mar, mas nao sabia que iria me fazer tanta falta. Na ausência da onda para surfar, eu terminei optando pelo skate. Às vezes deixo minha bike e saio com ele pela cidade, sozinho ou com alguns amigos”, disse ele.

Qualidade para uns, defeito para outros

É verdade que não existe nada perfeito, por melhor que seja. “Amo Toronto, mas odeio o sistema de saúde público”, disse a paulista Vanessa Rodriques, que mora na cidade há nove anos. Assim como ela, muitos brasileiros que vivem em Toronto não se simpatizam com a área médica, apesar de a cidade ter um dos melhores serviços de saúde pública do mundo (onde todos recebem o mesmo tratamento e privilégios, independente da classe social).

A questão é que muitos brasileiros tendem a comparar o serviço de saúde pública da cidade com a medicina privada do Brasil, onde quem tem dinheiro ou um bom plano geralmente é atendido rapidamente, tem direito a quarto privado e a um melhor acompanhamento médico. “A fila de espera em Toronto é muito grande. Além disso, se você tiver um problema de pele, por exemplo, e quiser ir a um dermatologista usando o seu cartão de saúde, tem que primeiro consultar um clínico geral para que ele possa lhe encaminhar para algum especialista. E haja esperar dias e até meses por uma consulta”, lamenta o engenheiro químico Paulo Barros, que está em Toronto desde 2000.

A diversidade cultural oferecida pela cidade também aborrece algumas pessoas, como a personal trainner Cássia Paiva. “Quando eu cheguei a Toronto, morei algum tempo em Scarborough. O bairro só tem gente da China, do Paquistão, da India. Nada contra esses países, mas o problema é que algumas pessoas cheiram mal. Não sei se é por causa da comida ou se não tomam banho direito, mas isso é algo que eu detesto na cidade”, desabafou ela.

Tem gente que não gosta do fato de Toronto não ter tanta opção para comer fora de madrugada; de não poder beber depois das duas da manhã; não ter feijão e arroz a cada esquina ou por causa do Maple Leafs (time de Hockey que só faz perder). Mas o melhor de tudo é que, por mais piegas que pareça, Toronto dá motivos de sobra para curtirmos esse lugar.

Aqui as diferenças são respeitadas (e celebradas); ainda podemos contar o nosso dinheiro na rua quando deixamos um caixa eletrônico; dá para experimentar comida (e a cultura) do mundo inteiro; animais de estimação são tratados como membros da família; temos uma cidade subterrânea; os donuts do Tim Hortons; um dos mais importantes festivais internacionais de cinema do mundo (TIFF); dia das bruxas na Church Street; um estádio esportivo com um teto móvel (Skydome); o blog OiCanadá; uma das maiores ruas do mundo (Yonge); a CN Tower – a terceira maior torre sem sustentação do mundo (e mais bonita que as duas primeiras)… São esses e tantos outros motivos que fazem de Toronto uma cidade muito amada.

E a gente quer saber. Apesar do amor que você sente por Toronto, o que você odeia na cidade?

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Marcio Rollemberg é pernambucano e formado em jornalismo. Foi editor-chefe de um telejornal universitário, produziu documentários e trabalhou como repórter de TV no Brasil. Em 2005 mudou-se para Toronto e atualmente é um dos colaboradores de uma revista e de um canal de TV. Em 2011 juntou-se a equipe do OiCanadá, onde escreve matérias sobre Turismo e Variedades.

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