Siga-nos

OiCanadá

Experiência

Tripulação, preparar para a decolagem!

Como seria pôr sua vida em quatro malas grandes, largar seu emprego, vender tudo o que puder vender, fechar a porta do seu apartamento, dizer ‘até mais’ aos seus amigos e sua família e pegar um avião rumo ao desconhecido? Claro que esse desconhecido é estranho até um certo limite, pois a gente sempre sabe um pouco sobre o lugar em que vamos iniciar vida nova. Nesse artigo você vai ler a pequena história do dia em que mais um casal de brasileiros embarcou para o Canadá e como foram os fins e os começos.

Isso aconteceu há um ano e eu nem acredito em como passou voando. Faz um ano que eu e meu namorado “aportamos” em Toronto! Eu sou gaúcha e ele é de Jundiaí, mas vivíamos há alguns anos em São Paulo. Lá eu era advogada e ele publicitário. Tínhamos uma vontade forte de experimentar uma vida com mais tempo para aquilo que realmente importa, menos estresse, menos trânsito, menos caos. Toronto nos pareceu ter tudo o que uma grande cidade tinha de bom, sem as implicações negativas de uma cidade super-lotada. Ele veio com contrato de trabalho e eu, sem emprego. E trabalho é aquilo que vocês já sabem: quando a gente tem às vezes queremos mudar, quando não tem, tudo fica esquisito. Sempre soube que migrar para o Canadá como advogada não seria das tarefas mais simples. Mas o que seria da vida sem nenhuma aventura e mistério? Era tempo de me reinventar.

No domingo da nossa partida, 20 de junho de 2010, São Paulo amanheceu em silêncio esperando o jogo contra a Costa do Marfim na Copa do Mundo. Tão engraçado os silêncios antes de jogos da Copa. Mal consegui me despedir dos queridos porteiros do prédio onde morava, porque eles estavam vidrados na TV.

A Av. Paulista estava vazia. Linda! Peguei o táxi do meu amigo Celso rumo ao aeroporto, fui sozinha porque mal cabiam as malas. Fizemos duas viagens. Ao chegar no aeroporto, todos vidrados na TV de novo! Enquanto o Brasil vencia, eu enrolava as malas nos plásticos protetores. Então, me dei conta de que não tínhamos mais nem celular, estávamos incomunicáveis, eu sozinha no aeroporto, enquanto ele deveria estar dentro do táxi num baita trânsito na Marginal. Resolvi parar de pensar em possibilidades catastróficas. Tudo daria certo!

Queria esquecer o abraço apertado que dei nas minhas grandes amigas. Isso me faria chorar. Lembro da sensação estranha dentro da sala de embarque. Sim, porque até aquele momento, apesar dos raios de pensamentos ruins, eu estava tomada por uma euforia tão imensa que nem conseguia pensar no que estava de fato acontecendo. Creio que a euforia serve como antídoto contra a tristeza da partida. Passou na minha cabeça por instantes o filme da nossa vida ali, pontinha de angústia. É preciso ter muita fé naquilo que virá, acreditar que a vida vai para frente e tudo será melhor.

Aquela sala de embarque para mim foi um verdadeiro período entre vidas, nada mais no Brasil, nada ainda no Canadá. A viagem foi do cão, sinusite me pegou dois dias antes. Mas quando eu vi o sol nascendo na janela, as cores do horizonte se transformando a cada minuto, todo aquele mal estar foi embora. Vi as Cataratas do Niágara, o Lago Ontário… Ali, nossos pensamentos planavam e voltavam ao presente. Nada melhor que o setor de imigração de um aeroporto para te colocar no presente.

Chegamos no Canadá às 6h da matina. A Imigração não demorou, apesar de terem sido minutos eternos. Temperatura amena, céu azul, dia brilhante, ensolarado. Toronto à primeira vista parece com as grandes cidades, mas foi só o táxi ir adentrando que já percebi a diferença: árvores, casas, parques e espaços de respiro entre os prédios! Largamos as malas no apartamento e saímos para a rua, reconhecer o terreno.

Primeiro dia de verão no hemisfério norte. O vento na cara fazia com que tudo lembrasse uma cidade praiana. Deve ser a brisa do lago que tem tamanho de oceano para quem vê da margem. Absolutamente todas as casas do bairro com jardins bem cuidados. Nos cafés, mesinhas para fora com vasos floridos. Tudo leve e sem pressa. Uma visão logicamente deturpada de uma recém-chegada com olhar de poliana. Afinal, eu não tinha compromissos logo mais e ver áreas verdes me faz feliz como pinto no lixo.

Vi o pessoal da prefeitura aguando os vasos de flores pendurados nos postes e pensei: se eles cuidam assim das flores, imagina das pessoas. E foi assim que nossa jornada começou por aqui.

De lá pra cá, passado o temeroso inverno – que dizem por aí ter sido o pior dos últimos tempos -, não mudei em nada minha primeira ideia e concepção da cidade. Depois de um ano, meu jeito de olhar a vida aqui só melhorou.

Tudo melhora quando a gente entende que as cidades nunca poderão ser vistas de um modo objetivo, concreto, e nosso entendimento sobre elas tem a ver com nossos sentimentos no momento da experiência, com nossas escolhas pessoais e, principalmente, com tudo aquilo que trouxemos na bagagem.

Avatar photo

Eliana Rigol é uma inquieta faceira nascida no sul do mundo. É autora do livro "Moscas no Labirinto" e cotidianamente deixa as ideias fluírem num blog que mantém há muitos anos. Advogada por formação, adotou a fotografia e a escrita como formas de tornar a vida mais leve. Migrou para Toronto em 2010, se tornou mãe da Luna, já rodou o mundo e voltou. Acredita no vento, no coração e no movimento.

13 Comentários

13 Comments

    Deixe uma resposta

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    Mais em: Experiência

    Topo