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Uma flor e uma lembrança

Nessa época do ano, é comum ver pessoas na rua, e até mesmo na televisão, usando uma flor vermelha na lapela. O OiCanadá explica a razão.

Todos os anos, em novembro, desde 1921, flores de papoula florescem nas lapelas e colarinhos de muitos canadenses. Essas flores, chamadas de Poppy, são um símbolo de Remembrance (lembrança), um compromisso visual de que nunca esquecemos aqueles canadenses que perderam suas vidas na guerra e operações militares. O Poppy é também usado em outros países.

Desde Napoleão

Antes de ser adotada pelo Canadá, a associação do Poppy com aqueles mortos em combate já existia desde as guerras Napoleônicas do início do século 19. Registros da época mostram como flores de papoula cresceram ainda mais grossas nos túmulos dos soldados da área de Flanders, na França. Esses campos eram improdutivos antes das batalhas acontecerem, mas ficaram cobertos de flores vermelhas após tudo terminar.

Durante a Primeira Guerra Mundial, os bombardeios foram tantos que os solos daquela região ficaram ricos em óxido de cálcio por causa do entulho. Quando a guerra terminou, o óxido foi absorvido rapidamente e o Poppy voltou a desaparecer.

Versos históricos

Um dos grandes responsáveis pela a adoção do Poppy como símbolo de Remembrance por aqui foi o tenente coronel John McCrae, médico oficial canadense na Primeira Guerra Mundial. Em abril de 1915, McCrae estava na Bélgica, na área tradicionalmente chamada de Flanders, onde aconteceu uma das batalhas mais violentas da Primeira Guerra Mundial, a “Second Battle of Ypres”.

No mês seguinte, um dia após a morte de um soldado amigo, o médico escreveu um poema, em que expressou toda a tristeza pela perda do amigo e uma reflexão sobre o que acontecia ao seu redor. Em 15 linhas, escritas em 20 minutos, ele capturou em ”In Flanders Fields” uma descrição exata das imagens e sons da área onde estava.

Através de suas palavras, o Poppy se tornou rapidamente o símbolo para os soldados que morreram em batalha. O poema foi publicado pela primeira vez em 8 de dezembro de 1915, na Inglaterra.

“In Flanders fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.

We are the Dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved and were loved, and now we lie,
In Flanders fields.

Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders fields.”

Lembrança e ajuda na lapela

Em novembro de 1918, a professora americana Moina Michael leu o poema de John McCrae e imediatamente se comprometeu em usar uma flor vermelha de papoula como um sinal de lembrança. Dois anos depois, durante visita aos Estados Unidos, a francesa Madame Guerin conheceu a tradição, e de volta a sua terra natal, decidiu usar papoulas feitas à mão para arrecadar fundos para crianças que perderam tudo durante a guerra em seu país. Seguindo o exemplo de Guerin, a então Great War Veterans´ Association, hoje Royal Canadian Legion, adotou o Poppy oficialmente em 5 de julho de 1921.

A primeira flor de lapela usada no Canadá foi feita em 1922 por veteranos de guerra inabilitados. O trabalho é uma maneira de prover uma pequena fonte de renda para ex-servidores incapacitados e seus dependentes, permitindo que se tenham uma participação ativa na manutenção da tradição do “Remembrance”.

Graças a milhões de canadenses que usam o Poppy da Royal Canadian Legion todos os anos, a lembrança da flor vermelha nunca morreu. Assim como a memória dos cerca de 117.000 canadenses que morreram em batalha.

Christian Pedersen é natural de Santos, São Paulo. No Brasil, trabalhou na gravadora Roadrunner Records, depois abriu um escritório de promoção e marketing para bandas e artistas, tendo clientes como a gravadora BMG, os selos Geléia Geral e Dubas. Christian mudou-se para Toronto em 2002, e virou cidadão canadense em 2007. Escreveu a coluna Conexão C no Brasil News em março de 2007 e, de maio a outubro de 2008, foi editor-interino do jornal. Do fim daquele ano, até outubro de 2010, foi editor e co-fundador do blog OiToronto.

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