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Cinema: Mon oncle Antoine

Melhor filme canadense da história (1971), eleito pelo Toronto International Film Festival e pela revista inglesa Sight & Sound. E geralmente quando começo escrevendo sobre os títulos, é porque o filme precisa de alguma motivação (e esforço) para ser admirado. Tentarei fazer minha parte para que todos assistam.

Ele se passa em numa cidadezinha rural de Quebec que cresceu em torno da exploração do perigoso Amianto durante o período da Grande Noirceur, que precedeu a Révolution tranquille. Calma, explicarei esses nomes bonitos na seção Prolix do texto.

The Good

O filme te coloca muito bem dentro do clima da cidade. Parece ser um retrato perfeito do panorama econômico, politico e social da época. Pra quem mora no Brasil, é necessário uma contextualização do que venha a ser uma cidade pequena em Quebec. A menor de Pernambuco,Vila dos Remédios (Fernando de Noronha), tem uma população de 2.837. Quebec tem 40 cidades menores que Vila dos Remédios…

Na parte técnica, a fotografia merece destaque. Além das paisagens (assustadoras) do inverno do norte, reparem como o foco da atenção do jovem Benoit é interessantemente retratado pela câmera.

Os personagens são extremamente bem trabalhados. Cada um poderia ter seu próprio filme.

Todas as cenas parecem ter algum significado oculto. Isso tem seu lado bom e ruim. De positivo é a curiosidade que o filme gera em te fazer pesquisar mais sobre aquela época. (ou a auto-satisfação de entender sem pesquisa)

The Bad

Já de negativo, nem todo mundo tem disposição ou interesse de correr atrás pra entender o que não é óbvio. É um filme de Quebecois para Quebecois. Particularmente, prefiro obras mais fáceis de digerir sem a necessidade de estudos pós-filmes. Se você tem algum amigo que logo após o filme disse que é genial, ou ele conhece muito bem a história político-social de Quebec ou é o famoso pseudo-cult dando uma de entendedor da sétima arte.

Na parte técnica, o áudio nas cenas externas é péssimo. Como já mostrei em outros reviews, baixo orçamento não é justificativa para baixa qualidade. Frescura minha, confesso.

The Prolix

Se você ainda não viu o filme e está curioso, aconselho primeiro se preparar antes. Pra isso, ofereço um pequeno FAQ sobre alguns aspectos mais ocultos do filme. Não tenho dúvida que eu teria gostado muito mais caso tivesse lido o que escreverei agora.

Período da Grande Noirceur?

Aconteceu durante o governo ultra-conservador do governador de Quebec Maurice Duplessis e seu braço direito, a Igreja Católica. Jovens das regiões rurais eram motivados a não irem à escola para ajudar no campo. Greves eram rapidamente combatidas na base da brutalidade da polícia. Baixa educação = baixos salários = trabalhos degradantes e mortais, como a mineração de amianto.

Amianto?

“Amianto é uma designação comercial genérica para a variedade fibrosa de sais minerais metamórficos de ocorrência natural e utilizados em vários produtos comerciais.”

Foi proibido em quase todos os países desenvolvidos por ser altamente mortal quando inalado por longos períodos. O Canadá possui uma política vergonhosa de proibir o uso no país mas permitir a exportação. Vejam as consequências causadas no nosso maior cliente, Índia:

Révolution tranquille?

Quebec só conseguiu se livrar de Duplessis após sua morte. E esse foi o gatilho que faltava para os descontentes radicalizarem. Não apenas contra as políticas de Estado mas também contra o domínio inglês na província, iniciando um forte movimento em prol da independência de Quebec. Foi um período onde houve uma enorme fuga de empresas/pessoas anglofônicas para outras regiões do Canadá.

Enfim…

Pelo interesse que o filme me gerou em pesquisar sobre um capítulo da história de Quebec, eu fico feliz em tê-lo assistido. Mas se você não se interessa pelo tema, tem muito filme canadense melhor que escrevi e escreverei sobre por aqui.

Diogo Lopes mora em Toronto e aproveita seu tempo "livre" de TTC para assistir e escrever sobre filmes para seu site pessoal de cinema. No OiCanadá, escreverá sobre filmes canadenses que valem a pena ser vistos.

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