Paladar
Poutine: a orgia dos carboidratos
A receita básica é batata, queijo e molho. Mas esta iguaria da culinária franco-canadense tornou-se tão popular, que ganhou diferentes versões e hoje é servida até com ingredientes da alta gastronomia, como o fois-gras (fígado de pato).
O dicionário da História do Francês de Quebec traz mais de 15 significados para a palavra “poutine”. Para os acadians (filhos dos colonizadores franceses no século XVII), poutine é a gíria que descreve “uma bagunça”. Há ainda quem diga que a palavra vem do inglês “pudding,” e que na tradução para o francês ficou “a mess”.
Mas na gastronomia a palavra poutine (pronuncia-se poo-teen ou pu-tine) refere-se a um prato tradicional canadense feito com batatas fritas, queijo e um molho. Há controvérsias sobre a origem deste prato, pois a invenção é disputada por duas cidades rivais e bem próximas de Quebec City: Victoriaville e Drummondville. O que não se discute é que sua invenção foi em 1957 por Fernand LaChance, quando um de seus clientes pediu para que ele lhe servisse batatas fritas com queijo e LaChance, contrariado, mandou o cozinheiro do restaurante misturar os dois juntos, alegando que iria fazer uma sujeira, bagunça.
A ideia logo ficou popular entre os moradores da área rural de Quebec e atualmente a poutine ganhou adoradores em todo território canadense. Mas nem sempre foi assim, pois para a população franco-canadense, que é conhecida pela sua alta gastronomia no país inteiro, ter um prato da zona rural fazendo sucesso país afora era vergonhoso. Mas isso não impediu que que a poutine ganhasse fama e virasse febre. A “receita” ganhou até destaque internacional. Chegou a Nova York nos anos 1970 conhecida como “disco fries” entre o pessoal da balada da época.
Com valor calórico médio de 700 calorias, esta iguaria ganhou tamanha popularidade que hoje é servida como entrada em diners, restaurantes, lojas de fast-food e até misturada com ingredientes da alta gastronomia em restaurantes tradicionais canadenses como au Pied de Cochon, em Montreal, por exemplo.
Os ingredientes principais da poutine são:
1) A batata – Tem que ser cortada a mão e em cortes não muito finos nem grossos. Tem que ser frita em banha pura e nunca em óleo vegetal.
2) O queijo – Tradicionalmente em Quebec se usa a parte coalhada do queijo (cheese curd) Frommage Beaucronne do dia, que possui umidade de 47% e dá uma leve “rangência” nos dentes ao ser mordida.
3) O molho – Geralmente é feito com carne de boi (gravy), mas pode ser vegetariano ou até de veloute de frango.
Com a fama, a poutine ganhou diversas versões com outros ingredientes. O básico está acima, mas você pode usar sua imaginação e criatividade para fazer o recheio que desejar.
- Poutine Itallienne: com molho de tomate no lugar do molho com carne de boi.
- Poutine Bourguinonne: adiciona-se carne moída ao molho de tomate.
- Poutine BBQ: com molho de churrasco americano.
- Disco Fries: originária de diners de New York, junta-se molho de frango com o queijo e coloca-se sobre as batatas fritas.
Pegou a ideia? Agora e só usar a imaginação e criar a sua receita. Se tiver com vontade de provar, mas não quer fazer fritura e deixar a cozinha de sua casa toda oleosa, aqui vão algumas das melhores poutines que já comi em Toronto:
- The Rosedale diner
- Harbord House
- Smokes poutine
- Poutine’s – House of Poutine
- Craft Burguer
- Dangerous Dan’s Diner
- Cafe du Lac
E aqui vai uma dica para quem também vai passar por Montreal na viagem de férias ao Canadá. Se você tiver curiosidade e quiser visitar o berço desta orgia calórica, vale a pena provar a poutine com fois gras mencionado nesta matéria no restaurantaupieddecochon.ca ou se a grana for curta, pode provar depois da balada ou para passar a fome da larica algum dos mais 25 tipos de poutine na La Banquise restolabanquise.com.
Vale salientar que existe um festival anual desta maravilha em Maillardville, na província de British Columbia, onde cerca de 15 mil pessoas se encontram para uma mostra de arte, canto, dança e, óbvio, da tradicional Poutine.