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Black ice, flurries, hoar frost – atualize seu vocabulário sobre a neve

Não há nada mais canadense que quebrar o gelo puxando conversa sobre o tempo. No inverno, porém, a conversa fiada ganha de fato importância. Saber se vai nevar e qual será a temperatura pode fazer você mudar sua programação e garantir assim seu conforto e até mesmo sua segurança. Mas você sabe a diferença entre graupel e sleet? Já ouviu falar de hoar frost? Tem experiência dirigindo sobre black ice?

Antes mesmo da gente cair com tudo na neve, é preciso entender melhor o frost, que é a nossa geada. As primeiras queimam de frio as plantas de temporada e marcam também a última chance de plantar bulbos, por exemplo, de tulipas, porque daí em diante o solo congela e fica impossível plantar. Do mesmo modo, é preciso aguardar as últimas geadas ao final da estação, para que o solo descongele e você não perca coisas que acabou de plantar com todo carinho.

Uma das coisas mais divertidas que a gente vê durante o inverno por aqui é o window frost – uma espécie de desenho gelado que se forma na janela quando há temperaturas muito baixas lá fora e um ar bem úmido dentro de casa. Nestas condições, o vapor de água se condensa na parte de dentro da janela criando padrões muito legais de cristais de gelo. O fenômeno é mais comum em banheiros e cozinhas, mas anda em franca extinção porque as casas hoje em dia costumam ter vidro duplo, o que elimina o barato.

Às vezes, o frost vem mais parrudo e aí o pessoal chama o troço de hoar frost. O formato, em geral, parece um monte de pena em miniatura ou confeito de brigadeiro branqueadão e cria verdadeiras esculturas de gelo em torno de plantas, bancos e grades. O maior problema aqui é quando a hoar frost recebe por cima uma camada de neve nova. Porque o congelado é fraco e pode a qualquer momento romper, provocando uma avalanche. Mas nada que preocupe a gente que está só batendo perna pela cidade, né?

Acima do nível geada, temos a neve básica, comum e que é feita de flocos de neve ou snow flakes e que é aquele desenho típico, estrelado. Se eles caem em uma dose mínima, é snow flurry, só flurries ou ainda snow shower. Já os snow grains (uma expressão menos usada) significa que está para cair pequeninos cristais de gelo que podem aparecer, por exemplo, grudados no pára-brisa do carro.

O próximo estágio é o dos snow pellets, que é também composto de cristais de gelo, só que opacos, já meio branquelos, criando uma pequena massa. Este tipo de neve é quase um granizo mais “macio” (soft hail), também chamado de graupel. E é nadica de nada quando comparado com o tal do sleet ou ice pellets, que é chuva que congela enquanto cai. Se o sleet vem acompanho de vento forte, cada “pingo” parece uma pequena picada de inseto na pele. Ouch!

Disparado, porém, a freezing rain é o tipo mais chato de precipitação no inverno. Também chamada de drizzle, ela tem gotas de água que congelam bem quando entram em contato com alguma superfície. O drizzle é uma mala sem alça: enche o pára-brisa de gelo e obriga a gente a raspar o vidro antes de qualquer saída de carro. É também o grande responsável pela maioria das escorregadas e quedas nas calçadas e, se cobre de gelo as linhas de distribuição de eletricidade, pode chegar a derrubar árvores e postes, deixando áreas inteiras sem energia, em função do excesso de peso gerado.

Outro presente de grego das freezing rains é o black ice, que é uma camada quase imperceptível de gelo no asfalto. Você só sente que o troço está ali quando já perdeu o controle do carro, que derrapa feito doido, patinando perigosamente.

Além disso, há também vários tipos de tempestades de neve, as snowstorms. Uma delas são as blizzards. Às vezes até com pouca neve, as blizzards são campeãs de vento (acima dos 40km/h). Não são muito comuns no país, mas quando chegam, sai de baixo, porque elas duram mais de 4 horas, criando perigo nas estradas, fazendo a visibilidade praticamente desaparecer do mapa.

Já a blowing snow ocorre quando o vento levanta a “poeira” de neve do chão. Nesse caso, a neve não cai. Ela passeia num balé doido pelos ares, chegando a ir além dos dois metros de altura. Aliás, é a distância da viagem para o alto que faz a diferença entre blowing e drifting snow. A drifting é, tecnicamente falando, quando a levantada fica abaixo dos tais dois metros.

Tempestades bravas de neve perto dos Grandes Lagos têm um nome só seu. São as snow bursts que registram mais de 75cm de neve num só dia – às vezes quase 30cm de neve por hora! Tudo só um pouco diferente de uma snow squall, que é intensa, repentina, com ventos fortes, mas dura menos, apesar de também levar a visibilidade nas estradas pras cucuias por umas boas 3 horas ou mais, seja por causa da queda brava de neve, seja por conta do vento esparramando a neve pra todo lado.  

Agora, importante mesmo é ficar atento aos avisos de snowfall warning porque, por exemplo, se vierem por aí uns bons 15 cm de neve nas próximas 12 horas, sair ao volante pode ser, literalmente, uma fria. Se for mesmo um caso de heavy snow o perigo é ficar sem energia por queda de árvores, postes e torres de distribuição, mas até mesmo telhados podem despencar se de repente recebem uma carga pesada demais para sua estrutura.

A neblina de gelo, ice fog, é outra coisa complicada no inverno.  Ela costuma pintar apenas quando está frio, mas frio pra valer. Tipo -30o C. Isso é raro em solo, mas quando rola, claro, reduz a visibilidade nas estradas. Seu maior impacto, porém, é nos vôos, porque o ice fog é uma dor de cabeça para os pilotos nas decolagens.

Uma coisa curiosa é a possibilidade de haver chuva comum pingando no meio do inverno. E com consequências que podem ser desastrosas em termos de enchentes. Tanto assim que a agência do governo chamada Environment Canada chega a disparar rainfall warnings pra que as pessoas se preparem.

Numa estação de esqui, os tipos de neve ganham outras conotações. A neve tipo talco, snow powder é aquela que acabou de cair e ainda não foi compactada por nada nem ninguém. É leve. Fresca. Nuvem zero km. Uma belezura pra quem curtir o inverno.

O próximo estágio desta neve é o crud, que pinta depois que o talco foi comprimido aqui e acolá. O terreno assim varia entre uma neve mais sólida e uma toda fofa. Agora, se a camada mais da superfície da neve derrete e em seguida congela de novo, aí o negócio ganha uma crosta. Essa crust pode ser fina e ceder com o seu peso ou pode ser grossa o bastante pra continuar firme enquanto você tenta dar uns passos (ou esquiar).

Agora o mais chato e o mais feio estágio da neve é, sem sobra de dúvidas, o slush: uma lama escurecida que mistura água com pedaços de gelo e sujeira de chão. Ou em outras palavras, uma nojeira comum quando a neve está derretendo. Essa danadinha é também culpada por quedas ao chão e até muita batida boba de carro. Aliás, se você tem automóvel no Canadá e não usa pneu especial durante o inverno está dando bobeira. A tração é muito melhor e a direção fica muito mais segura e tranquila.

Por último, é preciso ficar de olho na dupla vento + temperaturas geladas. É que qualquer vento bobo multiplica pra valer o efeito do frio podendo levar ao frostbite, que é o congelamento de extremidades do corpo. O frostbite pode funcionar como uma queimadura, mas se for dos bravos pode até levar embora um dedo ou a ponta do nariz.

Pra dar pra gente uma noção do risco quando alguém se aventura a dar umas caminhadas no inverno, o Environment Canada anuncia sempre o feels like sob o tal do wind chill.  Aprenda então a sempre conferir este detalhe nas previsões meteorológicas. E nada de ficar em casa encolhido. O país tem 35 milhões de pessoas que não só sobrevivem como até curtem o inverno. Basta se cuidar e aproveitar ao máximo as delícias que a estação tem a oferecer.

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