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Déficit de abraços

É impossível não perceber: os canadenses se cumprimentam de uma forma bem diferente da que nós brasileiros estamos acostumados.  Os diferentes códigos de saudação aqui no Canadá causam certa surpresa e um pouco de desconforto em brasileiros recém-chegados.

No Brasil, estamos habituados a fortes abraços, beijos e constantes demonstrações físicas de afetividade durante uma conversa com alguém conhecido. Aqui no Canadá, é necessário ser um grande amigo da pessoa para que ela ofereça algo parecido.  As diferenças nas normas de interação social que existem entre os dois países podem causar momentos bizarros e constrangedores, até mesmo para quem já está ciente delas.

Já estou há quase dois anos no Canadá e, até hoje, sinto que devo abraçar os meus amigos e conhecidos para devidamente cumprimentá-los.  Porém, a verdade é que aqui o contato físico não é muito comum entre as pessoas, até mesmo entre indivíduos que já se conhecem há um bom tempo.

Às vezes, sinto que os outros estranham quando estendo minha mão para um aperto ou quando me aproximo para um abraço. Beijos para saudar as mulheres são ainda mais raros. Já assustei muitas meninas ao tentar me aproximar de suas bochechas. O brasileiro tem uma necessidade de tocar a outra pessoa para sentir que de fato a cumprimentou. Isso pode ser um pouco confuso quando a etiqueta principal é apenas sorrir e falar um “oi” à distância.

No Brasil, durante uma conversa, as pessoas costumam constantemente se tocar: tapinhas nas costas, carinhos no ombro e até mesmo leves empurrões (normalmente entre os homens) são formas de demonstrar afeto pelo indivíduo com o qual você está interagindo. Além disso, a distância que separa você da outra pessoa costuma ser bem pequena. Quando brasileiros conversam, costumam ficar bem próximos um do outro. Aqui no Canadá, ao contrário, as pessoas não estão habituadas a esses tipos de afetividade, e a distância mínima para que canadenses se sintam confortáveis durante uma interação social é bem maior do que no Brasil. Não só isso, aqui até mesmo os casais demonstram poucos sinais de afeto em público. Muitas vezes, namorados interagem como se fossem apenas amigos. É muito menos comum ver pessoas andando de mãos dadas nas ruas e apaixonados se beijando em praças ou parques.

As despedidas também podem ser estranhas para quem não está acostumado com os costumes locais. Brasileiros costumam adiar ao máximo a separação de um encontro com amigos ou conhecidos. No Brasil, não basta apenas um “tchau”; são necessários, mais uma vez, abraços, beijos e longos discursos. Aqui as pessoas se despedem de um modo “express”: quando dizem “tchau” é “tchau” mesmo e cada um vai para o seu canto. Brasileiro costuma enrolar, estender a conversa, planejar a próxima vez em que vão se falar (que normalmente nunca acontece quando combinaram) e contar outras histórias que venham à cabeça mesmo depois da decisão de se despedir. Isso é outro hábito que eu sinto que canadenses estranham em mim: quando abrasileiro minhas despedidas, as pessoas ficam olhando, não entendendo por que continuo falando tanto mesmo depois de já ter “oficialmente” me despedido.

Muitos estrangeiros que vão ao Brasil notam essa diferença de etiquetas e depois, quando voltam a seus países, sentem saudades das manifestações mais calorosas de afeto que receberam no nosso país. Os brasileiros que vão para a América do Norte também acabam sentindo falta das demonstrações mais claras de amizade e carinho.

Não estou dizendo que canadenses sejam frios e mal-humorados, eles apenas têm um estilo diferente de interagir, e ao qual temos que nos adaptar. Com o tempo você se acostuma com os novos hábitos locais, mas a sensação de déficit de abraços e beijos é inevitável.

Adam, 21, é estudante de filosofia e sociologia na Universidade de Toronto. Natural de São Bernardo do Campo (SP), Adam morou durante a infância e a adolescência na Suíca, na China, nos Estados Unidos e no Brasil. É co-fundador e co-presidente do grupo estudantil Brazilians United in Canada (BRAZUCA), cujo objetivo é difundir a cultura brasileira e integrá-la a outras culturas em sua universidade.

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