Siga-nos

OiCanadá

"Agora sou um fã incondicional do Tim Hortons." - foto: http://www.flickr.com/photos/mrjoro/

Cultura

Mudança de Hábitos

Adam Yang fala em seu artigo sobre as mudanças de comportamento que sofreu desde que passou a morar por aqui, algumas delas até irônicas.

Depois de dois anos morando no Canadá, percebi que adquiri hábitos bastante diferentes dos que eu tinha quando morava no Brasil. Imagino que algo parecido também tenha acontecido com outros brasileiros que vieram para cá. Vejo tais mudanças de comportamento como sinais de adaptação, mas não consigo deixar de ter um olhar irônico sobre essas pequenas transformações. Aqui vai uma lista dos meus novos hábitos, que certamente caracterizaria como bizarros em outros tempos:

Considerar temperaturas acima de 0 grau como agradáveis.

Embora esse último inverno não tenha sido dos piores, foi suficiente para aumentar a minha resistência ao frio. A sensação de frio é obviamente relativa: depois de se expor a temperaturas extremamente baixas, o que você antes considerava frio torna-se facilmente tolerável. Ir para Campos do Jordão no inverno, portanto, deixa de ter a mesma graça para um brasileiro “canadenizado”.

Jantar às 5 da tarde.

Recentemente flagrei-me com muita fome em pleno horário do lanchinho! Esse costume de jantar cedo também é estranho aos europeus. Muitos amigos meus do velho continente simpatizam com a idéia de um jantar bem mais tarde. Mas muitos restaurantes fecham ou estão tristes e vazios depois do pôr do sol. O late dinner em um refeitório da universidade é às 6 da tarde! Para evitar a solidão, seja na cozinha ou no restaurante, é melhor se habituar a jantar mais cedo. Mas essa mudança, apesar de não ter sido imediata para mim, não é tão difícil: quando tem gente em volta comendo, necessariamente também temos vontade de comer. É uma lei infalível da natureza.

Não atravessar a rua com o sinal de pedestre fechado, mesmo quando não há carro nenhum à vista.

Recentemente fui à Nova York e percebi que os pedestres de lá são completamente loucos; atravessam sem medo ou hesitação na frente dos carros, muitos deles taxis, cujos motoristas são mais loucos ainda. Isso me fez reconhecer o quanto os pedestres de Toronto são extremamente cautelosos e obedientes às sinalizações. Percebi que, como pedestre em Toronto, eu também passei a obedecer melhor às sinalizações, apesar da minha tendência paulistana de atravessar assim que possível.

Gostar de um café aguado e doce.

Nunca gostei muito de café, muito menos de um café diluído, com creme, açúcar e sei lá mais qual tranqueira. Não consigo direito explicar como, mas mudei radicalmente de opinião e agora sou um fã incondicional do Tim Hortons. Já não acho ruim, e até aprecio, o famoso “chafé” norte-americano, sobretudo quando acompanhado dos donuts ou muffins.  Não é alta gastronomia, mas quebra um bom galho para tapear a fome por um preço bem decente.

Interessar-me por um esporte completamente diferente.

Percebi que agora estou gostando mais de hóquei, apesar do time de Toronto (os Maple Leafs) ser patético. Talvez por influência do ouro olímpico do Canadá nos Jogos de Vancouver, agora tenho bastante curiosidade pelo esporte nacional canadense. É claro ainda sinto mais emoção quando vejo uma partida de futebol, mas consigo assistir, apreciar e me divertir com um jogo de hóquei que esteja passando na televisão.

Aumentar exponencialmente o meu consumo de burritos.

Eu sou extremamente atrapalhado na cozinha; não tenho tempo, paciência ou habilidade para fazer toda hora o bom e velho arroz com feijão, que é a base da alimentação de qualquer brasileiro. A solução que encontrei para isso foi freqüentar botecos mexicanos para comer burritos, que são uns embrulhados de arroz, feijão, vegetais, carne e alface (ou seja, um prato padrão no Brasil). O melhor burrito da cidade é, de longe, o do Chipotle, na Yonge St., bem perto do Eaton Centre. Com certeza, esse é o meu principal refúgio quando bate o desespero por uma comida mais familiar.

Tenho certeza de que muitas dessas transformações não aconteceram somente comigo. Já havia discutido em meu artigo “Déficit de Abraços” a diferença marcante nos modos de cumprimentar e interagir. Se o leitor tiver notado alguma outra mudança de hábitos ou contrastes interessantes entre culturas, por favor, compartilhe conosco a experiência! Essas pequenas transformações sempre são engraçadas e curiosas, tanto para quem as vivencia quanto para quem ouve falar delas.

Adam, 21, é estudante de filosofia e sociologia na Universidade de Toronto. Natural de São Bernardo do Campo (SP), Adam morou durante a infância e a adolescência na Suíca, na China, nos Estados Unidos e no Brasil. É co-fundador e co-presidente do grupo estudantil Brazilians United in Canada (BRAZUCA), cujo objetivo é difundir a cultura brasileira e integrá-la a outras culturas em sua universidade.

13 Comentários

13 Comments

        Deixe uma resposta

        O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

        Mais em: Cultura

        Topo